Título: Satisfeito, Lula recebe Chávez amanhã
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Internacional, p. A14

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que ficou ¿satisfeito¿ com a vitória de seu colega venezuelano, Hugo Chávez, na eleição de domingo, informou ontem o porta-voz do Palácio do Planalto, André Singer. ¿Ele (Lula) parecia estar contente pelo fato de o processo eleitoral ter transcorrido em ordem e paz¿, relatou Singer. ¿Foi mais um passo, na avaliação do presidente, para a consolidação da democracia na América do Sul.¿

Amanhã o presidente Lula recebe Chávez em Brasília. Os dois líderes jantarão na residência oficial da Granja do Torto. A visita a Brasília foi uma idéia do próprio presidente venezuelano. Durante a campanha eleitoral, Chávez declarou que a primeira viagem que faria se fosse reeleito seria para o Brasil, numa demonstração de amizade e respeito pelo colega Lula.

Ontem Lula telefonou para Chávez e o felicitou pela reeleição. Segundo nota divulgada por Singer, o presidente brasileiro considerou a vitória de Chávez a ¿expressão de um processo mais amplo de transformações sociais e políticas em curso na América Latina, como se pode observar pelas eleições ocorridas recentemente¿ na região. A nota assinala que Lula ¿manifestou sua alegria em receber Chávez¿ em Brasília, antes da reunião de cúpula de sexta e sábado em Cochabamba, na Bolívia, que ¿será um grande impulso para a Comunidade dos Países Sul-Americanos¿.

Desde que venceu a primeira eleição na Venezuela, em 1998, Chávez mantém relação fraterna com Lula. No entanto, não foram poucas as vezes que os interesses dos dois líderes pareceram ser opostos. Em maio deste ano, Chávez foi acusado de estar por trás da decisão do presidente boliviano, Evo Morales, de nacionalizar as reservas de gás e de querer expropriar bens da Petrobrás. O objetivo de Chávez seria minar a influência de Lula no continente e expandir os negócios da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) na Bolívia. ¿Essa idéia foi comprada pela oligarquia brasileira que conspira e quer me fazer brigar com Lula¿, reclamou Chávez na ocasião.

Lula, por sua vez, sempre evitou comentar análises da imprensa internacional de que estaria sendo passado para trás na liderança do continente justamente por Chávez. No episódio da nacionalização do gás boliviano, Lula chegou a avaliar, em conversas reservadas, que seu colega venezuelano estava fazendo jogo duplo. Mas preferiu manter o silêncio diante das câmeras de TV. Chávez é uma espécie de ¿sapo¿ que o petista sempre aceitou engolir, segundo assessores do Planalto.

Mesmo antes de chegar à presidência do Brasil em 2002, Lula já manifestava seu apoio a Chávez. Durante a campanha eleitoral daquele ano, o petista chegou a pedir aos eleitores que fossem para as ruas como os venezuelanos caso ele vencesse e a elite quisesse tirá-lo do poder. Lula se referia ao golpe sofrido por Chávez em abril de 2002, que durou 48 horas.

Foi de Lula, por exemplo, a idéia de criar em 2003 o Grupo de Amigos da Venezuela - formado por Brasil, EUA, México, Chile, Portugal e Espanha -, para resolver uma crise de governabilidade enfrentada por Chávez.

No mês passado, Lula foi à Venezuela fazer campanha para Chávez. Os dois desfilaram em carro aberto por uma ponte inaugurada em Ciudad Guayana. Depois, Lula rasgou elogios a Chávez, destacando que ambos sofrem preconceitos das elites dos seus países. Lula chegou a comparar a imprensa brasileira à venezuelana, dominada pela oposição chavista.

Lula, porém, é mais brando que Chávez nas críticas aos EUA. Enquanto Chávez assegura que o presidente George W. Bush quer matá-lo, o presidente brasileiro se limita a reclamar da política ¿perversa¿ das nações desenvolvidas em relação aos países pobres.