Título: 'A visão de Gabrielli está totalmente equivocada'
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Economia, p. B6

'A visão de José Sérgio Gabrielli (presidente da Petrobrás) está totalmente equivocada', reagiu ontem Romero de Oliveira e Silva, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Gás Canalizado (Abegás), organização que reúne 19 das 25 distribuidoras do País.

Ele reagiu às declarações dadas pelo presidente da Petrobrás ao Estado. Gabrielli disse em entrevista que o reajuste do preço do gás natural produzido no Brasil é necessário para que a estatal não seja obrigada a promover um racionamento no País. Afirmou ainda que as distribuidoras podem absorver o reajuste sem a necessidade de repassá-lo para os consumidores. A estatal alega que as companhias distribuidoras têm margem suficiente para segurar o reajuste.

Silva considerou a declaração contraditória. 'Primeiro ele diz que precisa aumentar o preço para segurar a demanda e evitar um racionamento. Depois diz que as distribuidoras devem absorver o aumento. Ora, se essa é a lógica, ao não repassar o aumento não haverá desestímulo ao consumo, que é, ao que parece, o que se deseja', afirmou.

O presidente da Abegás disse que as margens das distribuidoras são conhecidas, ao contrário das margens que a Petrobrás tem em relação à venda de gás natural. 'A Petrobrás diz que a margem das concessionárias está exagerada. Mas em que nível estão as margens da Petrobrás?'

Ele criticou a 'lógica do reajuste' e afirmou que o fato de a Petrobrás não ter mais gás para entregar às distribuidoras já se tornou uma forma de segurar a demanda. Praticamente todas as distribuidoras de gás no Nordeste estão sem contrato com a Petrobrás neste momento. A região enfrenta um sério problema de escassez. O caso mais grave é o da Bahia, onde a demanda teve de ser cortada em 1 milhão de metros cúbicos por dia por falta do produto. A situação no Estado pode melhorar com o início da produção do campo de Manati, no litoral baiano. A previsão é que isso ocorra ainda este ano.

Segundo a Abegás, o crescimento do mercado neste ano ficará próximo de 7%. O setor mantinha um ritmo de crescimento de quase 20% nos últimos anos. A Abegás afirmou que a cadeia do gás natural está à mercê da Petrobrás, o que considera omissão do governo.

As distribuidoras reclamam da ausência do governo no planejamento da oferta de gás. Acham que o assunto está entregue à estatal. 'A Petrobrás é uma empresa, não é o governo. É preciso que esse assunto seja tratado pelo governo, planejado pelo Estado e não só pela Petrobrás', disse Silva.

A Abegás pediu formalmente na semana passada a intervenção do ministro de Minas e Energia (MME), Silas Rondeau, na discussão sobre o preço. As concessionárias querem que a discussão sobre aumento seja mediada pelo MME.

'A carta solicita que o ministério coordene a discussão sobre aumento do preço do gás. Ela também foi enviada à Confederação Nacional da Indústria (CNI), que representa os consumidores', explica o presidente da Abegás e também presidente da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás).