Título: Petrobrás amplia o debate com a YPFB
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2006, Economia, p. B6

A Petrobrás e a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) têm amanhã um encontro decisivo para as negociações sobre o preço do gás importado pelo Brasil. A estatal brasileira deve reforçar sua posição contra o aumento pedido pela Bolívia, mas, a julgar por declarações recentes de executivos e governos de ambos os países, é possível que a reunião marque o início das discussões sobre novos investimentos da estatal brasileira naquele país e a ampliação das importações do gás boliviano.

O prazo para a definição de preço vence no domingo, e a Petrobrás já vem demonstrando há meses a intenção de não ceder ao apelo por reajustes. Na semana passada, duas declarações vindas da Bolívia indicaram que as conversas podem tomar uma dimensão mais ampla. Na sexta-feira, o vice-presidente Álvaro García Linera disse que o Brasil quer mais gás boliviano a partir de 2012. Dias antes, um dos vice-presidentes da YPFB, Óscar Ortíz, afirmou que as conversas com a Petrobrás não vão tratar de prazos e temas específicos.

O diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, disse ontem ao Estado que não comentaria declarações publicadas pela imprensa. Mas frisou que a assinatura dos novos contratos de exploração e produção, confirmados nesta segunda-feira pelo presidente Evo Morales, criou um clima mais favorável entre as duas partes.

'Os novos contratos abriram espaço para este tipo de conversa (sobre novos projetos na Bolívia)', afirmou, fazendo coro com declarações que vem sendo repetidas pelo presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli.

Mesma avaliação tem o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, que disse ontem no Rio que os novos termos permitem à estatal voltar a avaliar investimentos no país vizinho. 'Vimos com muito alívio a aprovação dos contratos no Congresso (da Bolívia). Com isso, acabou a última fronteira de discussões a respeito desse assunto', disse o ministro, para quem houve um 'final feliz' nas discussões entre os dois países.

Quando questionado sobre as negociações a respeito do preço do gás, porém, o ministro repetiu a postura defensiva de Sauer. 'Isso é outra história', desconversou, sem dar maiores detalhes. Observadores próximos dizem que a Petrobrás deve manter sua posição contra qualquer aumento e é difícil que as duas partes prorroguem o prazo de discussões novamente. Sauer não quis confirmar a hipótese. 'Vamos ouvir o que eles têm a dizer', disse.

O governo da Bolívia já chegou a falar em dobrar o preço do gás vendido ao Brasil, atualmente em torno dos US$ 4 por milhão de BTUs (unidade térmica britânica, usada para medir o volume de gás) . Nos últimos meses, porém, a expectativa era fechar, pelo menos, um valor próximo ao acertado há dois meses com a Argentina, de US$ 5 por milhão de BTUs.

A Petrobrás argumenta que já paga quase US$ 5 na fronteira, incluindo os custos do transporte. Além disso, os argentinos terão poder sobre parte dos líquidos extraídos do gás antes de ser enviado à rede de gasodutos, o que lhes garante rentabilidade adicional.