Título: Peemedebistas atendidos tentam controle do partido
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2006, Nacional, p. A4

Os agrados aos clãs Sarney e Calheiros serão especialmente úteis no momento em que o governo tenta atrair o PMDB para sua esfera de influência. A ala lulista do partido prepara uma manobra em favor do Palácio do Planalto - e dela mesma, naturalmente. Quer substituir o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), pelo senador Renan Calheiros (AL) entre novembro e dezembro. A costura vem sendo feita pelo senador José Sarney (AP), que tenciona ocupar pela terceira vez a presidência do Senado. Em caso de reeleição do presidente Lula, o PMDB ficaria nas suas mãos e facilitaria a execução do seu plano de tocar um segundo mandato com o PMDB, tendo o PT como o líder da coalizão.

A idéia já foi levada aos diretórios do partido. Mas enfrenta reações, principalmente entre veteranos do antigo MDB, como o senador Pedro Simon (RS). A campanha de Lula e a ala peemedebista ligada ao Planalto ignoram os protestos.

Amanhã, na visita que fará a Goiânia, antes de se encontrar com representantes do PT, Lula se reunirá com o PMDB local, que aderiu oficialmente à sua candidatura há cerca de 20 dias, durante visita do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, ao Planalto. Em troca, o PMDB de Goiás quer um dos prováveis sete ministérios que devem ser destinados ao partido.

Para Simon, a ligação de Lula com uma ala do PMDB não passa de negociata. "O presidente Lula faz acordos na base do dinheiro", disse. Segundo o senador, isso fica claro quando o presidente mantém contatos apenas com um setor do PMDB, comandado por Sarney, Calheiros, Ney Suassuna (PB) e Jader Barbalho (PA). "Ele (Lula) pegou o Sarney, o Renan, o Suassuna e o Jader e fez uma compra."

"A ideologia dessa gente é o dinheiro", continuou. "Sinto que o Lula quer começar de maneira equivocada o segundo mandato, pegando as mesmas pessoas para negociar o apoio oficial do PMDB. Não tem chance nenhuma de eu apoiar o governo. É um apoio escandaloso. Tanto que já loteiam cargos."

Para o deputado Moreira Franco (RJ), que, desapontado com a política, desistiu de buscar a reeleição, Lula só conseguirá apoio oficial do PMDB se negociar de forma institucional. "Quando ele fez a opção, no primeiro mandato, de trabalhar com uma facção e não com o partido, deu no mensalão", disse.

Moreira acredita que a divisão interna no PMDB ficará mais radical se o governo tentar intervir na direção do partido, elegendo um presidente afinado com o Planalto. "Se fizer isso, vai criar mais problemas", afirmou.

Uma alternativa cogitada pelo grupo de Temer é a criação de um novo partido, com os descontentes. Mas isso só será analisado após os resultado das eleições.