Título: Suplente de senador, vaga cobiçada
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2006, Nacional, p. A11

Quando vota num senador, raramente o eleitor sabe quem é o candidato a suplente. Deveria saber. Cada senador disputa a eleição junto com dois suplentes, que podem assumir o mandato no lugar do titular ao longo dos oito anos de mandato. Dos 81 senadores que hoje exercem o mandato, 10 são suplentes. Desses, cinco assumiram a vaga em definitivo, por causa da renúncia dos titulares. Por causa disso, as vagas de suplente são cobiçadas.

O sindicalista Sibá Machado (PT-AC) é um dos que não tinham nenhuma experiência parlamentar antes que lhe caíssem no colo quatro anos de mandato de senador. Suplente de Marina Silva, que assumiu o Ministério do Meio Ambiente em janeiro de 2003, Sibá chegou ao Senado em fevereiro do mesmo ano. Poderá ficar mais quatro anos no cargo, caso Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito presidente e decida manter Marina no cargo de ministra.

No Distrito Federal, PTB, PSDB e PMDB se envolveram nesta eleição numa disputa acirrada pelas suplências do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB), ultrafavorito da eleição para o Senado. O PTB acabou ficando com a primeira suplência, para a qual indicou o deputado distrital Gim Argelo. Ao PMDB coube a segunda vaga, dada ao engenheiro Marcos de Almeida Castro, irmão do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, amigo e conselheiro do ex-ministro José Dirceu.

A luta pela suplência de Roriz foi intensa porque existe a possibilidade de ele voltar a concorrer a um novo mandato de governador em 2010. No caso de vitória - no Distrito Federal, Roriz é sempre favorito -, seu suplente ganharia quatro anos de mandato.

Muitas vezes a vaga de suplente é oferecida a um empresário, que acaba por financiar parte da campanha do titular. Outras vezes, fica na própria família. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) tem sempre na primeira suplência o filho Antonio Carlos Júnior, que administra suas empresas.

A suplência pode ser usada também para garantir a fidelidade do aliado. É o que ocorreu no Rio Grande do Norte. Desconfiados de que a aliança com o PMDB dos Alves era frágil, visto que as famílias são antigas adversárias políticas, os Maias do PFL fizeram exigência. Queriam do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), candidato ao governo do Estado, uma prova de que ele aceitaria a candidatura de Rosalba Rosado (PFL) ao Senado e não a abandonaria no meio do caminho para trabalhar por outro. Para demonstrar que a aliança era para valer, Garibaldi levou para a suplência o próprio pai, o patriarca Garibaldi Alves, de 85 anos, acostumado com as refregas com os Alves.

O ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB), que disputa uma vaga ao Senado por Alagoas, também resolveu pôr a família na suplência. Se ele vencer a eleição e, por acaso, tiver de se afastar, quem vai assumir o mandato é seu primo Euclydes Mello, que também administra suas empresas.

O senador José Sarney (PMDB), que disputa o terceiro mandato pelo Amapá, tem um eterno suplente, seu amigo Jorge Nova da Costa, maranhense como ele. Quando Sarney foi presidente da República, ele nomeou Costa para governador do então território do Amapá. Depois, ao se transferir para o novo Estado, em 1990, passou a contar com seu homem de confiança para a suplência. E vai continuar com ele. Nesta eleição, o segundo suplente de Sarney é outro amigo, o empresário Salomão Alcolumbre.

Entre os candidatos a suplente deste ano, há os que têm tradição no ramo. O vice-governador de Minas, Clésio Andrade (PFL), está na chapa de Eliseu Resende (PFL) - que tem apoio do governador Aécio Neves (PSDB) e que, de acordo com a última pesquisa Datafolha, ultrapassou Newton Cardoso (PMDB), hoje aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Clésio, que é também presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), foi suplente de Francelino Pereira de 1994 a 2002, mas nunca assumiu o mandato. Clésio é também ex-sócio de Marcos Valério, acusado de ser o principal operador do caixa 2 do PT, que deu origem ao escândalo do mensalão.

Os atrativos da suplência conquistaram até velhos disputadores de eleições, como o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE). Ele tentou ser candidato a presidente da República mais uma vez. Desistiu. Candidatou-se a suplente na chapa do favorito Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Em São Paulo os dois suplentes do favorito Eduardo Suplicy (PT) não foram escolhidos pelo titular. O Sindicato dos Professores do Ensino Médio e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) indicaram o professor Carlos Ramiro de Castro (PT) para primeiro suplente . E os petistas do interior emplacaram Ary Fernandes, professor da PUC de Campinas, na segunda suplência.