Título: Papel e informática, apostas de Rigotto
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2006, Nacional, p. A12

Ninguém tem uma receita pronta para livrar a iniciativa privada da crise. As estiagens, o câmbio sobrevalorizado, a queda dos preços e a importação, pelo governo federal, de arroz e trigo argentinos arrasaram a agricultura gaúcha. Carlos Sperotto, presidente da Farsul e rival número um do Movimento dos Sem-Terra (MST), ataca: "O governo Lula está desmontando o setor produtivo". E prevê: a safra brasileira de grãos, que foi de 120 milhões de toneladas em 2005, será de 98 milhões em 2007.

Para Sperotto, a mudança de perfil no campo, com ênfase para a produção de leite é um caminho consistente. O governador Germano Rigotto (PMDB), candidato à reeleição, acredita em novos empreendimentos, como o investimento de quase US$ 5 bilhões de Votorantim, Aracruz e Stora-Enso para montar as plantas de produção de papel a partir de florestas de eucalipto no pampa, a região sul, onde houve grande desmobilização da agropecuária. Ou nos investimentos na área de informática.

Do lado da indústria, Paulo Tigre, da Fiergs, mostra realismo. Receita aos empresários que agreguem mais valor à sua produção - como destinar soja à produção de biodiesel em vez da exportação - e melhorem suas matrizes. Mas cobra do Estado que faça seu dever de casa e assuma o ajuste fiscal que nenhum político gaúcho tem coragem de enfrentar.

Há realistas no setor público também. Fogaça lembra que há mais de 30 anos o Estado não investe em infra-estrutura. "A iniciativa privada tem capacidade de reação, mas o Estado precisa ajudar." Mas ele reconhece que o politizado Rio Grande não é fácil de domar: "Tourear o Rio Grande do Sul é bem difícil."

Os números assustam. De acordo com Sperotto, a estiagem de 2004 causou prejuízos de R$ 7 bilhões e a de 2005 sugou R$ 6 bilhões dos agricultores. A primeira deixou de fazer girar R$ 13 bilhões na cadeia produtiva. A indústria de máquinas e implementos agrícolas vendeu 28,6 mil tratores em 2004 e 17,5 mil em 2005.