Título: Nas raras folgas, tempo para negociar trabalho
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2006, Nacional, p. A14

Nas tardes de domingo, os trabalhadores bolivianos que conseguem folga saem das oficinas de costura e vão em grupos até a Praça Kantuta, no Pari. Vão saborear comidas típicas, disputar campeonatos de futebol de salão (perdem sempre para os brasileiros, mas não desistem), ouvir música e negociar vagas de trabalho.

Ao cair da tarde, aparecem na Kantuta (nome de uma flor dos Andes) os agenciadores de costureiros. Vêm com peças de roupa na mão, para mostrar que tipo de serviço precisam. Alguns preferem contratar jovens casais, que trabalham em conjunto - uma espécie de minúscula linha de montagem - e rendem mais. Outros querem solteiros.

Nos locais freqüentados por bolivianos sempre há uma parede repleta de anúncios de emprego. 'Se necesita overloquistas, rectistas e galoneristas. Casales. Urgente. Super sueldo' - diz um deles, afixado na entrada da Chalo Peluqueria, onde, aos sábados, se vêem filas de dóceis fregueses à espera da vez de cortar o cabelo.

A Chalo fica na Rua Coimbra, no Brás. Aos sábados, entre as ruas Marajó e Bresser, é o ponto preferido da comunidade boliviana. Compram produtos pirateados em bancas de camelôs, se espremem num posto telefônico que anuncia llamadas internacionales a Bolivia y el mundo e, às vezes, adentram um dos três restaurantes, modestíssimos, alinhados num mesmo lado da rua. Lá servem chicharron de pollo, falso conejo, salteñas, tucumanas, e outras comidas típicas.

No sábado passado num deles celebrava-se um casamento. Ao final da festa, o casal de noivos e padrinhos partiram, felizes, numa kombi velha e barulhenta.