Título: UDR vê risco de situação no campo piorar
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2006, Nacional, p. A20

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, vê risco de acirramento dos conflitos no campo com a promessa do Movimento dos Sem-Terra (MST) de intensificar as invasões. Houve 45% mais ocupações nos últimos quatro anos, no governo do aliado Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, do que no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Foram 992 invasões de janeiro de 2003 até anteontem, contra 683 registradas de 1999 a 2002, de acordo com estatísticas da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Também em entrevista ao Estado, Marina dos Santos, da coordenação nacional do MST, confirma que os sem-terra vão se articular com movimentos sindicais, de mulheres, jovens e estudantes para grandes mobilizações em torno de um projeto de desenvolvimento que 'modifique a estrutura' da sociedade.

No campo, as 'ocupações vão continuar', garante ela, pois a política de reforma agrária do governo Lula 'não atacou o latifúndio'. 'As famílias foram assentadas em projetos antigos ou em terras públicas', afirma. O movimento vai exigir o assentamento, em 2007, de 150 mil famílias acampadas e, nos próximos quatro anos, de 1 milhão de famílias.

Mas, segundo Nabhan, o setor agrícola vive uma crise e não há clima para suportar invasões. O líder ruralista considera que Lula tem a oportunidade 'histórica' de se afastar dos 'falsos movimentos sociais' e afirma que o MST está 'fora de moda'. 'Movimentos sociais são legítimos, mas quando invadem e depredam, tornam-se criminosos. É preciso aplicar a lei: invadiu, cadeia. Mas Lula os tem como aliados. E perde a credibilidade quando avaliza essa turma.'

O presidente da UDR também critica a maneira como a reforma agrária é feita. 'Essa reforma já passou da hora de acabar. O Brasil não precisa que se transformem propriedades produtivas em favelas rurais. Essa falsa reforma está saindo na base da pressão. Invadem, o governo vai lá e libera verba. É jogar dinheiro no lixo.'

Nabhan defende um projeto de colonização agrária, a ser feito de 'de forma técnica, não política'. De acordo com ele, o agronegócio tem segurado a economia brasileira, mas o governo não reconhece. 'Lula tem uma oportunidade ímpar de se desgrudar da esquerda e uma das formas é se afastar desses falsos movimentos. A sociedade não aceita a invasão, a violência. Isso ficou claro no período eleitoral, quando o MST parou as invasões para não prejudicar a eleição do PT. O presidente precisa rever a questão agrária, a não ser que queira copiar o presidente da Bolívia, Evo Morales. Aí vamos ter uma guerra civil', ataca. 'O mundo inteiro repudia esse modelo de reforma agrária. O MST está fora de moda'

'O governo priorizou o agronegócio', rebate Marina dos Santos. 'O Brasil precisa de um novo modelo agrícola, que dê prioridade à agricultura familiar e camponesa', diz. O MST quer também a mudança nos índices de produtividade no campo para fins de reforma agrária e vai fazer campanha para anular a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. 'Faremos uma grande campanha pela anulação do leilão de privatização da Vale', garante.