Título: Pentágono planeja formação do supersoldado
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2006, Internacional, p. A24

O Pentágono está em busca do supersoldado - um combatente que não precisa comer nem dormir por quatro dias, resiste ao stress e não sente culpa.

O Programa de Assistência Contínua (CAP) da Darpa está pesquisando maneiras de ¿evitar o cansaço e fazer com que os soldados fiquem acordados e alertas por sete dias seguidos, sem sofrer nenhum prejuízo físico ou psicológico, e sem recorrer aos estimulantes existentes hoje no mercado¿.

Existem registros, não confirmados pelo Exército, de que soldados americanos estavam usando o medicamento Modafinil em Bagdá, em 2003. O Modafinil é indicado para tratamento de narcolepsia, que permite à pessoa ficar acordada e alerta por 90 horas, sem a ansiedade causada por anfetaminas. ¿Eliminar a necessidade de dormir, mantendo alto nível de desempenho físico e cognitivo, vai criar uma mudança fundamental na força de guerra¿, diz um texto da Darpa, sobre os diversos estudos de redução de necessidade de sono.

Já o programa AugCog (Cognição Aumentada) da Darpa tem como objetivo melhorar o desempenho dos soldados em situações de stress, um dos principais fatores que levam a erros no campo de batalha. Já estão em pesquisa capacetes que passariam para a central de comando informações sobre o estado psicológico dos soldados.

Para Jonathan Moreno, professor de Ética Médica e História da Ciência da Universidade da Pensilvânia, o objetivo é arriscado porque o stress também tem uma finalidade evolutiva, de aumentar a concentração. ¿Como eliminar o stress negativo e deixar o positivo?¿ pergunta o especialista.

PÍLULA NUTRICIONAL

A Darpa quer também reduzir a necessidade de alimentação dos soldados. O projeto ¿Dominância Metabólica¿ está desenvolvendo uma pílula nutricional que reduziria drasticamente a necessidade dos soldados de ingerir calorias. O objetivo é que os combatentes não precisem se alimentar de 3 a 5 dias, o que melhoraria seu desempenho na batalha. A Darpa também estaria estudando o uso de adesivos semelhantes aos de substituição de nicotina, só que para nutrientes.

Medicações para reduzir as emoções nos soldados, a chamada pílula anticulpa, é outra linha de pesquisa. Pesquisadores estão estudando o uso de betabloqueadores - normalmente adotados para controlar doenças cardíacas - para criar uma pílula anticulpa. Os betabloqueadores agem sobre neurotransmissores ligados à memória de longo prazo de acontecimentos carregados de emoção. Bloqueando esses neurotransmissores, os soldados ficariam menos vulneráveis a memórias dolorosas.

A Darpa tem um orçamento de US$ 3 bilhões, pequeno diante dos US$ 68 bilhões do Departamento de Defesa. Mas a Darpa e o Pentágono trabalham em constante colaboração com as universidades americanas - 350 universidades dos EUA têm contratos de pesquisa com o Departamento de Defesa, que cobre 60% do financiamento para pesquisa básica. Os maiores receptores de recursos do Pentágono são o Massachusetts Institute of Technology (MIT), que recebeu US$ 500 milhões em 2003, e a Johns Hopkins University, com US$ 300 milhões no mesmo ano.