Título: Cruzada pela cobrança de CO2 emitido
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/12/2006, Vida&, p. A37

O maior ícone do aquecimento global é a usina energética baseada em carvão , que expele no ar milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), principal gás do efeito estufa.

Portanto, causou surpresa ver James Rogers, diretor-presidente da Duke Energy, empresa americana de queima de carvão, surgir como um defensor de uma regulamentação que, pela primeira vez, definirá um custo à emissão de CO2.

Ele tem seus motivos: ¿A mudança do clima é verdadeira e estamos a caminho de encarar controles obrigatórios sobre a emissão de dióxido de carbono. Precisamos começar agora porque, quanto mais esperarmos, mais difícil e mais dispendioso será¿.

O aquecimento global não é apenas um risco ambiental, é também um desafio para a política econômica. Sem incentivos financeiros, os investimentos não ocorrerão. E a economia mundial precisa de uma transformação tecnológica que passe da situação de hoje, em que 90% da energia deriva de combustíveis fósseis, para um futuro livre deles - isso em torno de 2100.

TENDÊNCIA

O posicionamento de Rogers está longe de ser consensual dentro do setor, mas tem o apoio de quem produz eletricidade a partir de reatores nucleares - isentos de carbono.

A despeito da posição contrária do governo Bush, a idéia ganha terreno na arena política americana. A Califórnia tem como meta reduzir sua contribuição para o aquecimento global em 25% nos próximos 14 anos. Em Washington, membros influentes do Poder Legislativo, como o senador John McCain, um republicano que pretende substituir Bush, apresentam leis destinadas a restringir a geração de CO2 no país.

Mas o aquecimento global é visto também como um ¿fracasso de mercado¿. Economistas, ambientalistas e mentores da política concordam que a maior causa desse fracasso é que, em boa parte do mundo, não se impõe uma cobrança monetária ao carbono expelido na atmosfera.

Porém, está cada vez mais evidente que existe um considerável custo embutido nas emissões, especialmente para as futuras gerações: declínio da produção agrícola em países tropicais pobres, furacões mais violentos e inundações que poderão transformar milhares em refugiados.

¿Estabelecer um preço sobre as emissões de carbono é a mais importante medida a ser tomada¿, diz Robert Stavins, diretor do programa de economia ambiental da Universidade Harvard. ¿A cobrança é a única forma de se obter benefícios em curto prazo, pela eficiência no consumo, com benefícios em longo prazo decorrentes da troca por combustíveis limpos.¿

Executivos como Rogers, que é também presidente do Instituto Elétrico Edison, entidade patronal cujos membros fornecem 60% da energia elétrica dos Estados Unidos, pressionam o governo por um plano de cobrança.

A intenção é reduzir o risco. Somente uma política federal - como um imposto sobre o rejeito de CO2 de qualquer fonte, ou um sistema regulatório de ¿limitação e troca¿ - deixará claro que tipo de medidas e cronogramas suas empresas seguirão.

Os investidores em projetos de energia alternativa também enfatizam a necessidade de prioridades. ¿Precisamos de um esquema para longo prazo¿, disse Vinod Khosla, analista de risco voltado para projetos de defesa do ambiente. ¿Quinze anos é o horizonte mínimo de estabilidade de que precisamos.¿