Título: EUA liberarão carne e leite de clones
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/12/2006, Vida&, p. A11

Uma série de pesquisas há muito esperada concluiu que consumir carne e leite de animais clonados e de seus descendentes é seguro. Os estudos, alguns feitos por cientistas ligados ao FDA (órgão que regula remédios e alimentos nos Estados Unidos), serão usados como base para a liberação desses produtos no mercado sem nenhum tipo de rotulagem especial.

Os trabalhos serão publicados no dia 1º na revista Theriogenology, especializada em reprodução animal. ¿A composição da carne e do leite de clones está de acordo com a dos produtos consumidos nos Estados Unidos¿, dizem os cientistas. A recomendação do FDA é esperada para a próxima semana.

O anúncio da publicação do estudo já causa reações contrárias de grupos de defesa do consumidor. Um levantamento feito pela organização Pew Initiative on Food and Biotechnology mostra que 64% dos americanos se sentem desconfortáveis com a clonagem animal e que 43% acreditam que comida de clone não é segura.

Já o FDA vê a clonagem como uma extensão das tecnologias de reprodução animal, assim como a inseminação artificial e a fertilização in vitro, e que se tornará rotineira à medida que o preço cair e a eficiência do processo aumentar. ¿É o próximo passo¿, diz o porta-voz do órgão, Doug Arbesfeld. O número existente de animais clonados é relativamente pequeno: 150 clones de uma população de 9 milhões de vacas leiteiras. Mas as empresas de biotecnologia estão se preparando para clonar o gado e os porcos mais apetitosos e as vacas leiteiras mais produtivas.

RAZÃO E EMOÇÃO Dois dos estudos foram feitos por produtores de clone, as empresas Cyagra e ViaGen. Eles analisaram o crescimento de animais convencionais e clonados e não viram problemas diferentes nos clones - não são mais suscetíveis a pegar infecções ou outras doenças, garantem os cientistas. Eles também não detectaram problemas de saúde em animais de laboratório criados com alimentos originários de clonagem.

Os cientistas também se debruçaram sobre 13 pesquisas sobre a composição da carne e do leite de clones e seus filhotes. Segundo eles, não há ¿diferenças importantes tóxicas e nutricionais¿ quando se considera o conteúdo de vitaminas, minerais, proteínas, aminoácidos, gorduras, água e carboidrato. ¿Está bastante claro que um animal clonado ou sua prole é indistinguível de um animal convencional¿, afirmou Arbesfeld.

Em contraposição, os estudos concluem que o desconforto dos consumidores em relação à idéia de consumir alimentos vindos de clones baseia-se em grande parte em emoções vagas. De fato, pesquisas de opinião mostraram repetidas vezes que a população entende muito pouco sobre clonagem.

Isso levanta a questão sobre se decisões como essa devem se basear somente na ciência ou devem as autoridades levar em consideração as sensibilidades da população - que podem não ser científicas, mas são inegavelmente reais. Responsáveis pela regulamentação e líderes de uma meia dúzia de empresas que podem entrar no mercado de alimentos clonados dizem que essa é uma oportunidade para o governo e a população se renderem aos fatos.

Mas outros dizem que as pessoas não conseguem evitar uma atitude emotiva em relação à comida e essas sensações merecem consideração - no mínimo, para não enfraquecer a confiança do consumidor no suprimento de alimentos. ¿Existem mais coisas do que simplesmente segurança alimentar¿, diz Susan Ruland, da Associação da Indústria de Laticínios. Empresas filiadas à organização estimam que a venda de laticínios no Estados Unidos possa ter uma queda de 15% ou mais se o FDA permitir a venda de carne e leite provenientes de clones.

¿Há uma grande confiança no leite como um alimento nutritivo saudável essencial na nossa dieta¿, afirma Ruland. ¿Nós não queremos brincar com isso.¿