Título: Plano de emergência contra apagão
Autor: Monteiro, Tânia e Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/12/2006, Metrópole, p. C1

O ministro da Defesa, Waldir Pires, convocou para 15 horas de hoje, em seu gabinete, uma reunião com os representantes de todos os setores envolvidos na crise aérea. Juntos, eles vão traçar um plano de ação para evitar que o caos registrado nos principais aeroportos do País às vésperas do Natal volte a se repetir no réveillon. Ontem, técnicos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) iniciaram uma auditoria nas empresas aéreas para investigar se houve prática de overbooking (venda de passagens em número superior à lotação dos aviões) na semana passada.

¿A experiência do fim de semana foi muito triste, foi algo gravíssimo. Vamos mobilizar todos os esforços para impedir que não se repita¿, disse o ministro ao Estado. Pires acrescentou que ¿a expectativa é de que não seja necessário que os aviões da Força Aérea Brasileira sejam mobilizados novamente para atender passageiros com dificuldades para embarcar¿. E completou, num discurso duro, que ainda não tinha usado quando a responsabilidade pela crise recaía sobre o controle de tráfego aéreo, responsabilidade do governo federal: ¿É inconcebível que tenha ocorrido isso e espero que não se repita.¿

No encontro, o ministro pretende examinar com a Anac, a Aeronáutica, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), as companhias e representantes do setor de turismo o que provocou a crise e antecipar medidas para impedir um novo colapso. Um representante da Casa Civil também participará da reunião. ¿Vamos examinar tudo para tomarmos as medidas e impedir surpresas. É uma política de prevenção¿, disse Pires.

De acordo com o ministro, a auditoria que a Anac iniciou ontem deve estar concluída até o fim da semana. O Estado apurou que o relatório da agência não ficará restrito ao suposto overbooking praticado pela TAM às vésperas do Natal - após quatro dias de suspensão, a empresa retomou ontem a venda de passagens. Embora esse seja o foco principal, a inspeção trará um diagnóstico mais abrangente dos motivos que levaram ao colapso operacional da companhia, apontando panes nos sistemas da Infraero e problemas meteorológicos em Congonhas. ¿É inegável que esta crise tem um forte componente empresarial. Mas, sozinho, ele não explica o episódio¿, avalia um analista do setor.

Ontem, duas equipes visitaram as sedes da TAM e da Gol, em São Paulo. Cada uma delas é composta por até quatro técnicos, todos profissionais oriundos do extinto Departamento de Aviação Civil (DAC). Além de vasculharem os computadores e registros das centrais de reserva, confrontando o número de bilhetes vendidos e a capacidade das aeronaves, eles também estão entrevistando diretores das áreas diretamente envolvidas na crise. ¿Começamos pela TAM e Gol, pois elas respondem por 80% do mercado doméstico. Mas, amanhã (hoje), já haverá técnicos nas demais companhias¿, assegurou uma fonte da Anac.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) disse ontem que duvida da eficácia da auditoria. ¿Estou com medo de que ela não traga uma solução prática para evitar que os problemas se repitam no réveillon¿, disse Gabeira, integrante de uma comissão da Câmara que busca de soluções para a crise na aviação.

Paralelamente à auditoria, a Anac desenvolve um estudo para propor mudanças na malha aeroviária. Os sucessivos problemas do setor demonstraram, para os técnicos, que ela está muito enxuta, com aviões voando 14 horas por dia e fazendo até dez trajetos - o que inviabiliza ações emergenciais. ¿Levamos quatro dias para contornar o caos nos aeroportos e parte disso está relacionado à forma como a malha está organizada¿, disse uma fonte da agência.

ATRASOS

Após uma manhã tranqüila, boletim divulgado no fim da tarde pela Anac mostra que voltou a aumentar o número de vôos atrasados no País. Da zero às 17 horas, 23,3% dos vôos sofreram atrasos acima de uma hora. Dos 1.206 vôos programados, 218 foram afetados e 37, cancelados. O Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, aparece no topo da lista, com 51 atrasos, seguido de Congonhas, com 31. O Aeroporto de Salvador registrou 18 atrasos e o de Fortaleza, 17. O Aeroporto Tom Jobim, no Rio, teve 16 atrasos e o de Brasília, 11.

Com a volta da calma aos aeroportos, a FAB encerrou na madrugada de ontem a operação de apoio à TAM. Inédito no País, o transporte de passageiros civis em aeronaves militares foi determinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira. O esquema envolveu 9 aviões, que transportaram 2.615 passageiros. As aeronaves cumpriram 21 missões, com 87h55 de vôo, nas quais foram mobilizados 120 militares.