Título: Com Alemanha, UE pode investir mais no Mercosul
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/12/2006, Economia, p. B6

A Alemanha assume no próximo dia 1º a presidência temporária da União Européia (UE) e avisa que quer debater melhores condições para investir no Mercosul e acelerar o processo para a conclusão de um acordo entre os dois blocos em 2007. O Mercosul foi praticamente ignorado nos últimos seis meses na agenda européia, presidida pela Finlândia. Agora, com a Alemanha na presidência, a tendência é de que a região volte a ter certa atenção diante dos investimentos alemães no continente.

Segundo informou a chancelaria alemã ao Estado, o foco na região será o de criar melhores condições para que as empresas européias invistam no bloco, incluindo acordos de bitributação e fortalecendo as garantias jurídicas para a atuação das companhias.

Berlim também quer fazer avançar as negociações entre a Europa e o Mercosul para a criação de um acordo de livre comércio. ¿Vamos trabalhar para a conclusão em 2007, mas não podemos predizer se isso ocorrerá¿, disse um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha. Segundo ele, uma reunião entre as delegações do Mercosul e da Europa poderá ocorrer na segunda metade de janeiro em Bruxelas.

Na Comissão Européia, diplomatas revelam que a estratégia será a de ver primeiro como ocorrerão as negociações paralisadas da Organização Mundial do Comércio (OMC), para só depois retomar as ofertas de abertura dos mercados europeus aos produtos agrícolas do Mercosul.

Se com o Mercosul ainda não há um prazo para fechar o acordo, a Alemanha quer lançar negociações com a Comunidade Andina e países da América Central para que um entendimento comercial seja fechado. Segundo um diplomata alemão, o objetivo dos europeus é o de não isolar os países que estejam adotando políticas de esquerda para que não haja radicalização da região contra os investimentos estrangeiros. Tanto a Venezuela como a Bolívia, portanto, não devem sofrer nenhum distanciamento por parte da UE, pelo menos por ora.

PRIORIDADE Se a América Latina volta ao radar dos europeus, Berlim, que também assume a presidência do G8 em 2007, não esconde que sua estratégia no comando dos dois grupos tem como principal prioridade política entre os países em desenvolvimento a situação crítica da África.

Segundo os alemães, a situação que mais afeta hoje a Europa entre os países pobres é a da África, que continua provocando centenas de imigrantes para os países europeus todos os dias. Berlim planeja anunciar planos de cooperação para a África tanto em seu comando da UE como na agenda do G8.

¿A África será o centro de nossas atividades¿, afirmou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Heidemarie Wieczorek-Zeul. ¿O destino da África e de suas populações tem conseqüência direta para a Europa. Por isso, precisamos de uma África forte¿, disse a alemã, que já tem o apoio dos Estados Unidos nesse plano.

A realidade é que a presidência alemã tanto da UE como do G8 é vista com entusiasmo na Casa Branca. Washington espera poder coordenar de forma mais intensa as posições européias e americanas em questões como Irã, Palestina, Líbano, Afeganistão e os recursos energéticos da Rússia. Isso porque os americanos acreditam que a chanceler alemã, Angela Merkel, é hoje a pessoa com mais poder de persuasão entre os líderes europeus. O premiê inglês, Tony Blair, deve deixar o governo em 2007, e a França terá eleições.

Angela também é vista como uma nova oportunidade de cooperação depois que as relações entre o ex-chanceler Gerhard Schröder e George W. Bush se tornaram difíceis diante da oposição de Berlim à Guerra do Iraque, em 2003. Outro tema espinhoso será o da adesão da Turquia ao bloco, processo parcialmente suspenso por causa da recusa de Ancara em reconhecer o Chipre. Para completar, Bulgária e Romênia passam a fazer parte do bloco europeu em 1º de janeiro, o que eleva o número de membros da UE para 27 países.