Título: Até 2010, ferrovias terão R$ 12,5 bi
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/12/2006, Economia, p. B1

O sistema ferroviário brasileiro se prepara para receber, nos próximos quatro anos, um volume de investimentos nunca antes visto na história do setor. Até 2010, serão R$ 12,5 bilhões para ampliação da malha existente, aquisição de vagões e locomotivas e manutenção dos trilhos. Desses recursos, quase 50% serão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Apesar desse esforço, representantes da iniciativa privada defendem maior empenho do governo para ampliar a malha existente.

¿Uma das conseqüências desse programa de investimento é aumentar a participação do modal ferroviário no total de cargas movimentado pelo sistema de transporte brasileiro¿, afirma o gerente do Departamento de Transporte e Infra-Estrutura do BNDES, Dalmo dos Santos Marchetti, um dos autores de um estudo sobre as ferrovias brasileiras, ao qual o Estado teve acesso.

Segundo o técnico do banco, a meta é aumentar a ainda tímida participação das ferrovias no transporte de cargas, hoje restrita a um quarto do volume total, apesar de ter custos menores que o transporte por meio de rodovias.

A carência de investimentos governamentais já levou as concessionárias a assumir obras que também são de responsabilidade pública, como passarelas para comunidades que vivem no entorno das ferrovias. No ano passado, o BNDES criou, a pedido da iniciativa privada, uma linha de financiamento diferenciada para minimizar os gargalos logísticos. Como resultado, os investimentos para esse fim serão de R$ 852 milhões para quatro das principais concessionárias.

Desde o ano 2000, conta Marchetti, do BNDES, a receita do setor tem crescido a um ritmo médio anual de 7%. Os investimentos, por sua vez, têm avançado 32% ao ano nesse período. Marchetti estima que pelo menos mais 2 mil quilômetros de malha ferroviária serão construídos por esse programa de investimentos, em torno de 7% da atual extensão ferroviária do País. ¿

A malha não tem crescido nos últimos 20 anos. Dois mil quilômetros são significativos, mas esses projetos são antigos¿, diz o diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça. O estudo do BNDES mostra que no ano passado foram fabricados 7.500 vagões, volume 20 vezes superior ao da década de 90. Para os próximos anos, a previsão do banco é de produção anual por volta de 4.500 vagões. Segundo Marchetti, o ritmo acelerado de 2005 foi conseqüência de uma necessidade que estava ¿represada¿.

PLANOS A MRS, com controle compartilhado entre a Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Gerdau e Ultrafértil, planeja investir R$ 2,5 bilhões até 2010. A empresa obteve em 1996 a concessão de 1.674 quilômetros da malha sul da Rede Ferroviária Federal S.A. Desde então, aplicou R$ 2,1 bilhões na ferrovia que liga Minas Gerais, Rio e São Paulo.

¿Não existe foco principal de investimentos. A situação da malha estava tão deteriorada que fomos obrigados a diluir os desembolsos para mantê-la uniforme¿, diz o presidente da MRS, Julio Fontana Neto.

De acordo com o estudo do BNDES, a MRS poderá se tornar, nos próximos três anos, a ¿maior ferrovia brasileira em volume transportado¿. Em 1996, a então RFFSA transportou 46 milhões de toneladas. Este ano, a MRS deverá movimentar 115 milhões de toneladas, sendo 60% de minério de ferro.

A América Latina Logística (ALL)tem um programa de investimentos de R$ 2,5 bilhões até 2009. Desde 1997, quando iniciou suas atividades, a empresa realizou investimentos no total de R$ 1,5 bilhão. Atualmente, sua área de atuação é de 6.586 quilômetros, nos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná.

O controle acionário da ALL é pulverizado, com participações do braço de investimentos do BNDES (BNDESPar) e dos fundos de previdência dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) e da Caixa Econômica Federal (Funcef), após a recente incorporação da Brasil Ferrovias e Novoeste. O diretor-financeiro e de Relações com Investidores da ALL, Sergio Pedreira, acredita que o tamanho da atual malha brasileira, em torno de 30 mil quilômetros, é suficiente para atender ao crescimento da demanda, desde que o número de vagões e locomotivas acompanhe a expansão do setor. ¿De maneira geral, não temos capacidade de infra-estrutura subutilizada. É preciso mais investimentos em vagões e locomotivas e ajuda do governo no sentido de eliminar gargalos¿, afirma Pedreira. A ALL é a concessionária que mais investirá em obras auxiliares, com investimento de R$ 384 milhões.

De acordo com o diretor da ALL, a concessionária tem apresentado crescimento de 14% no volume de carga transportado desde 1997, quando iniciou suas operações. Em receita, a expansão verificada no mesmo período é de 26% Já o presidente da MRS Logística, acha que o governo deveria ampliar seus esforços para a expansão da malha ferroviária. ¿Quando falamos em expansão da malha, a iniciativa privada não vai fazer. Isso tem de ser feito via investimento público. O custo fixo dessa indústria é um dos maiores em comparação com qualquer setor¿, afirma Fontana Neto. Vilaça, da ANTF, lembra que em 1958 o País tinha 38 mil quilômetros de ferrovias. Agora, a extensão encolheu para cerca de 30 mil quilômetros. Por isso, defende a integração com outros modais de transporte para melhorar a eficiência do sistema.

¿A responsabilidade pela ampliação da malha ferroviária é do governo federal¿, afirma Vilaça. De acordo com ele, nos últimos 10 anos foram investidos R$ 10 bilhões no setor e o governo contribuiu com cerca de R$ 500 milhões.