Título: Lula minimiza derrota de Mantega
Autor: Paraguassú, Lisandra e Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2006, Nacional, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a decisão de reajustar o salário mínimo para R$ 380. Em rápida entrevista no Planalto, afirmou que não houve derrotas dentro do governo por conta do aumento, porque é ele quem toma as decisões. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendia o valor de R$ 367, inferior até aos R$ 375 previstos na proposta de Orçamento para 2007.

'Não tem equipe econômica, não tem equipe produtiva. Tem um governo do qual eu sou presidente e, portanto, eu decido as coisas', disse Lula. 'Ninguém ganha, ninguém perde. Quem ganha é o povo com essa determinação e é uma decisão minha e não tem ninguém que sai fortalecido ou enfraquecido. Todo mundo ganha nessa história.'

A decisão de elevar o mínimo para R$ 380 saiu de um acordo com as centrais sindicais, chancelado por Lula, na semana passada. Ao saber dele, Mantega disse que o Orçamento 'já estava apertado' e o novo valor complicaria as contas da Previdência. Na entrevista ontem, o presidente desdenhou das previsões de que o reajuste ameaça a meta de crescimento de 5% ao ano. 'Não é possível que R$ 5 possam ser motivo de o País não crescer. Esse povo que vai ganhar R$ 5 a mais vai comprar comida, roupa, sapato. Esse dinheiro nunca será comprado em dólar, vai ser comprado em comida e produto brasileiro.'

Lula acabou por criticar indiretamente um de seus maiores aliados, o deputado Delfim Netto (PMDB-SP). 'Nós já provamos, com o Bolsa-Família, o crédito consignado, o mínimo, que acabou aquele momento em que falávamos primeiro tem de crescer para depois distribuir. Vamos distribuindo aos poucos e crescendo aos poucos.' Delfim, quando era ministro da Fazenda, na época da ditadura, disse que era preciso 'fazer o bolo crescer para então distribuir'.

O presidente contou ter analisado o período de 1956 a 1961 e o milagre econômico e neles o mínimo não acompanhou o crescimento. 'Estou convencido que um pouquinho a mais para o salário mínimo significa um pouquinho a mais de melhoria da qualidade de vida das pessoas e o Brasil certamente não sofrerá nenhum arranhão por isso.'

Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia, participaram da festa de fim de ano dos funcionários do Planalto. 'Se não fossem os dicionários, eu, na verdade, não utilizaria a palavra 'governar'. Usaria a palavra 'cuidar', porque o povo precisa de muito cuidado e muito carinho', disse ele, no discurso em que agradeceu o apoio dos servidores.

Um coral ligado à Universidade de Brasília, os Cinquentões da UnB, animou a festa. Os cantores usavam gorros de Papai Noel e, após a apresentação, Lula pôs um dos gorros e posou para fotos com eles. No fim, formou-se uma fila de funcionários para tirar fotos ao seu lado.