Título: Raúl fala em 'abrir espaço' a jovens
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2006, Internacional, p. A14

Em meio a crescentes e desencontrados rumores sobre o estado de saúde do líder cubano Fidel Castro, o irmão dele e presidente interino de Cuba, Raúl, fez um discurso na quarta-feira à noite no qual falou em 'abrir paulatinamente o espaço' para as novas gerações e declarou-se favorável ao debate e às divergências. Sem fazer nenhuma menção à saúde de Fidel, a fala de Raúl - no encerramento do Congresso da Federação de Estudantes Universitários - se deu às vésperas da mais importante sessão anual da Assembléia Nacional (Parlamento), que começa hoje em Havana e deve delinear o programa de governo para 2007.

'Às vezes as pessoas temem o termo discordar, mas eu digo que, quanto mais debate e mais discordância houver, melhores serão as decisões', afirmou Raúl aos estudantes. Num pronunciamento de cerca de meia hora, Raúl disse que irá delegar mais tarefas e fazer menos discursos do que seu 'insubstituível' irmão Fidel.

'Fidel é insubstituível, a não ser que seja substituído por todos juntos', afirmou, repetindo a declaração que fez em junho, de que o único 'herdeiro possível é o Partido Comunista de Cuba'. Raúl também ressaltou as diferenças entre seu estilo e o do irmão. 'Eu não pretendo imitá-lo. Quem imita, fracassa.'

O reconhecimento da necessidade de abrir espaço para políticos mais jovens dá a entender que um novo estilo de governo surgirá em Cuba após a morte de Fidel. 'Queiramos ou não, estamos concluindo o cumprimento de nosso dever e temos de dar passagem, paulatinamente, às novas gerações.' Aparentando tranqüilidade e usando uniforme militar, Raúl disse que Cuba passa por um momento 'histórico'.

Fidel, de 80 anos, não é visto em público desde que uma cirurgia de emergência para frear uma hemorragia intestinal - segundo as fontes oficiais - forçou seu afastamento do poder, em 31 de julho, pela primeira vez desde a revolução de 1959. A ausência do líder tem provocado incertezas sobre o futuro do único país comunista do Hemisfério Ocidental, em meio a especulações de que Fidel poderia estar perto da morte. Na semana passada, o chefe dos serviços de inteligência dos EUA, John Negroponte, declarou que a morte de Fidel é 'uma questão de meses, não de anos'. O regime cubano, no entanto, desmente a versão de que Fidel tenha câncer ou alguma outra doença grave que o tenha levado a um estágio terminal.

Raúl, de 75 anos, apontado como sucessor pelo próprio Fidel, disse que o sistema de partido único vai continuar existindo com ou sem o irmão. Analistas crêem, no entanto, que ele não tem ambição de governar Cuba por tempo indeterminado e vai administrar o país por alguns anos, antes de passar o poder a um sucessor mais jovem.

Durante o mandato interino, Raúl tem criticado a burocracia estatal e a corrupção e tem feito chamados ao regime para 'corrigir erros' para enfrentar um plano americano de acelerar a transição na ilha. A ele se atribui a imagem de líder pragmático, que poderia dar um virada na direção de um modelo chinês, de abertura econômica e continuidade política. Ele disse ser a favor do relaxamento do controle estatal da economia.

Desde que Raúl assumiu, em julho, jornais cubanos publicaram raras histórias sobre roubos e corrupção na sociedade socialista cubana.