Título: Milícia muçulmana declara guerra à Etiópia
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2006, Internacional, p. A15

O líder da milícia muçulmana União das Cortes Islâmicas, xeque Hassan Dahir Aweys, anunciou ontem que seu grupo está em guerra com a vizinha Etiópia, e não contra o governo provisório somali, isolado na cidade de Baidoa. 'Todos os somalis devem participar nessa luta contra a Etiópia', convocou Aweys.

O anúncio foi feito em meio ao recrudescimento do conflito no país. Pelo terceiro dia consecutivo, houve choques entre as milícias islâmicas e as forças do governo, apoiadas por tropas etíopes. Segundo a agência de notícias Associated Press, o número de mortos passa de cem.

Foguetes, morteiros e revólveres estavam sendo usados nos combates, em diferentes frentes a cerca de 30 quilômetros de Baidoa. É o mais intenso combate no país desde o fim da ditadura de Mohamed Siad Barre, em 1991. Os choques começaram na terça-feira, quando terminou o prazo dado pelas milícias islâmicas para a retirada das tropas etíopes do país.

A União das Cortes Islâmicas tomou o controle da capital, Mogadiscio, e grande parte do país em junho. Formadas por 11 facções, as cortes têm forte apoio entre a população somali e a comunidade empresarial, por terem estabilizado em parte a anarquia existente na Somália desde 1991.

A Etiópia nega participação direta no conflito, mas admite ter enviado centenas de militares encarregados de treinar tropas leais ao governo provisório, reconhecido internacionalmente como legítimo.

'Tudo indica que os combates prosseguirão', disse o ministro da Informação somali, Ali Ahmed Jama. 'Há muitas mortes, principalmente do lado das cortes islâmicas, porque eles estão na ofensiva, enquanto nossas tropas estão em posições de defesa.' Não houve, porém, nenhuma contagem independente precisa do número de mortos de cada lado.

Existe o temor de que a guerra se espalhe pela região, conhecida como Chifre da África. Já houve denúncias de que a Eritréia, inimiga histórica da Etiópia, teria enviado à Somália armas e tropas para auxiliar as forças islâmicas.

Os Estados Unidos, que apóiam a interferência etíope no conflito, alertaram para a chegada de combatentes islâmicos estrangeiros ao país. Eles ajudariam a criar uma 'Grande Somália' - expansão territorial pregadas pelas milícias muçulmanas sobre uma região do sul etíope, que seria governada pela sharia (lei islâmica). Alguns dos jihadistas que estariam no país são acusados de laços com a rede terrorista Al-Qaeda, e teriam inclusive participado de atentados no Quênia e na Tanzânia.