Título: Líderes xiitas tentam aproximação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2006, Internacional, p. A16

Representantes dos principais grupos xiitas do Iraque se reuniram ontem para discutir como reunificar o bloco e pressionar o clérigo Muqtada al-Sadr - líder da mais temida milícia xiita - a abandonar a violência. Realizada em Najaf, a reunião pode ter um papel importante no processo de paz iraquiano, já que trataria de alguns dos maiores obstáculos políticos que o país enfrenta, como a fragmentação entre os xiitas e os ataques sectários da milícia de Sadr.

É a primeira vez que os principais líderes xiitas esboçam uma tentativa de aproximação. São eles Aziz al-Hakim, líder do partido xiita Conselho Supremo para a Revolução Islâmica e da milícia Brigada Badr; o aiatolá Ali al-Sistani, principal líder religioso do país; e Sadr, cuja liderança entre os xiitas cresceu a partir da invasão americana, em 2003.

Durante o encontro com Sadr, representantes de sete partidos xiitas tiveram ao menos uma de suas demandas atendidas pelo clérigo: a suspensão do boicote do grupo político ligado a Sadr. Há três semanas, os sadristas, que ocupam seis ministérios e 30 cadeiras no Parlamento, suspenderam sua participação no governo depois que o primeiro-ministro Nuri al-Maliki se reuniu com o presidente americano, George W. Bush.

Outro pedido dos representantes xiitas ao clérigo dizia respeito à sua milícia, o Exército Mehdi, que vem matando dezenas de sunitas e exacerbando o conflito sectário. 'Daremos garantias a Sadr que (renunciando à violência) ele não será excluído do processo político', disse Sami al-Askari, membro do Dawa, partido de Maliki.

Políticos ligados a Sadr afirmaram que o clérigo deve ordenar que sua milícia suspenda os ataques por um mês. Ele aceitou uma trégua por temer que, sem o apoio do governo de Maliki, passe a sofrer ataques dos americanos. 'A segurança deve melhorar daqui para frente', disse um dos aliados de Sadr.

Em troca do cessar-fogo, os sadristas querem a promessa de Aziz Hakim de que Sadr não será isolado. A disputa de poder entre Sadr e e Hakim vem se tornando um empecilho para a criação de uma unidade iraquiana e aprofundando as divisões entre os xiitas.

Ambos são herdeiros de importantes líderes religiosos, controlam milícias temidas e detêm cadeiras no Parlamento. Mas enquanto Hakim se aproxima dos EUA e modera seu discurso, Sadr intensifica seus apelos para que os americanos deixem o país e não coíbe o banho de sangue promovido por sua milícia.

Antes do encontro com Sadr, os representantes de partidos xiitas fizeram uma visita ao mais poderoso clérigo xiita do país, o aiatolá Ali al-Sistani, que também mora em Najaf. O objetivo do encontro era pedir a aprovação de Sistani sobre um novo governo, formado por uma coalizão entre xiitas, sunitas e curdos - e não mais com predominância xiita, como acontece atualmente.

Com a violência alcançando níveis recordes especialmente em Bagdá, a coalizão é vista como a última chance de os iraquianos terem um governo capaz de coibir os ataques sectários. O grupo teria o apoio dos EUA, mas não seria integrado pelos sadristas. Uma das missões da coalizão, aliás, seria justamente pressionar Sadr para amenizar tanto seu discurso como suas ações. Integrantes da Aliança disseram que estão sendo estudadas várias propostas para combater a violência, incluindo operações militares, possivelmente com o apoio das forças de coalizão.