Título: Captação barata não reduz spread
Autor: Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2006, Economia, p. B4

Os bancos não repassaram, em novembro, a queda dos custos de captação dos recursos usados nas operações de crédito contratadas pelo consumidor. Em conseqüência, a distância entre a taxa de captação paga pelas instituições financeiras e os juros dos empréstimos cobrados da clientela, o chamado spread, aumentou de 39,9 pontos porcentuais para 40,1 pontos porcentuais.

O fenômeno ocorreu justamente no mês em que taxa de captação caiu de 13,2% para 12,9% ao ano, nível mais baixo desde o início da série histórica do Banco Central (BC), em julho de 1994. A redução foi obtida com a queda dos juros básicos da economia e com a diminuição das taxas embutidas nos contratos negociados nos mercados futuros de juros.

Para o chefe-adjunto do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Luiz Malan, o aumento do spread em novembro foi pontual e não pode ser encarado como tendência de médio e longo prazos. 'A tendência continua a ser de redução gradual dos juros e do spread dos empréstimos bancários.'

No mês passado, a taxa média de juros dos empréstimos aos consumidores caiu de 53,1% para 53% ao ano, também o menor nível desde em julho de 1994. Segundo Malan, o crescimento do spread no mês passado pode ter sido uma conseqüência do próprio aumento do número de pessoas que estão tendo acesso ao mercado de crédito. 'O aumento da base de clientes provocou uma elevação dos riscos do crédito. Os bancos precisam embutir este fato econômico no spread como forma de se proteger contra eventuais inadimplências.'

O aumento do prazo médio dos empréstimos bancários, segundo Malan, foi outro fator que pressionou o spread das operações de crédito no mês passado. 'Quanto maior o prazo da operação, maior o risco assumido pelos bancos.' Em novembro, o prazo médio dos empréstimos às pessoas físicas aumentou dos 349 dias de outubro para 355 dias, o mais alto desde os 357 dias de abril de 2001. 'A tendência é de que os prazos dos empréstimos continuem a aumentar.'

O crescimento da inadimplência nos empréstimos para a compra de bens em geral, de acordo com o chefe-adjunto do Depec, pode ter dado uma contribuição adicional para a elevação do spread em novembro. 'Nestas operações, as garantias não têm a mesma qualidade das oferecidas nos empréstimos para a compra de automóveis, por exemplo.' Nestes casos, o próprio carro comprado com o financiamento bancário é dado em garantia. Em novembro, a taxa de inadimplência dessa modalidade de financiamento era de apenas 3,3%. O nível de atraso nos empréstimos para a compra de outros bens, em contrapartida, aumentou de 11,9% para 12,2%.

O chefe-adjunto do Depec registrou ainda o crescimento expressivo do financiamento imobiliário a taxas de mercado nos últimos três meses. 'Apesar de o volume emprestado ainda ser pequeno, a velocidade de expansão desta modalidade do crédito tem sido expressiva.'