Título: País cresce menos em tecnologia
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2006, Negócios, p. B20
Não é somente na economia em geral que o crescimento brasileiro tem decepcionado. O País cresce menos que a média latino-americana no setor de tecnologia, conforme índice medido pela consultoria espanhola Everis. Mesmo com a explosão do mercado de celulares no País, que deve atingir 100 milhões de aparelhos este mês, o número de telefones móveis por mil habitantes cresceu 18,5%, para 519, no terceiro trimestre do ano, comparado com o mesmo período de 2005.
Segundo a consultoria The Yankee Group, devem ser vendidos 37,1 milhões de celulares este ano no Brasil, sendo 60% do total para reposição de aparelhos para pessoas que já são clientes.
A América Latina fechou o terceiro trimestre com 554 computadores por mil habitantes, um avanço de 20,6%. A campeã de crescimento, entre os quatro países acompanhados pela Everis, foi a Argentina, com aumento de 42,4%, para 729 computadores por mil habitantes. Além do Brasil e da Argentina, a consultoria acompanha, com indicadores separados, o México e o Chile. 'Houve melhora nos índices brasileiros, mas, do ponto de vista relativo, o avanço foi mais lento que os demais', explicou Flávio Araripe, sócio-diretor da Everis.
A consultoria IT Data projeta que, este ano, o mercado brasileiro crescerá 47% sobre o 2005, alcançando a marca de 8,3 milhões de máquinas vendidas. O mercado de computadores portáteis irá dobrar, passando de 313 mil laptops comercializados em 2005 para 650 mil.
Mesmo com o crescimento nas vendas de computadores, incentivado por cortes de impostos e pelo câmbio favorável, o Brasil fica abaixo da média regional no acesso à internet. O número de usuários de internet por mil brasileiros aumentou 22,3%, comparado a 24,3% na média regional. O total de computadores por mil habitantes avançou 15,8%, frente aos 16,7% de crescimento regional. No mesmo período, a Argentina avançou 23,7% e o Chile 25,3%.
CONSOLIDADO
A Everis consolida números sobre tecnologia e sobre o ambiente econômico e social dos países em seu Indicador da Sociedade da Informação (ISI), que tem como objetivo orientar investidores em novos projetos. O Brasil ficou com 3,93 pontos no terceiro trimestre, comparado a 3,89 no trimestre anterior. A média latino-americana atingiu 4,33, um crescimento de 1,8%. Entre os quatro países acompanhados pela consultoria, o Brasil tem a pior pontuação.
Quando se leva em conta somente os indicadores de tecnologia, o Brasil está à frente do México. O que prejudica mais o País são os indicadores de ambiente, principalmente no que diz respeito ao crescimento da economia como um todo. 'Estamos em último na relação entre PIB e habitantes', apontou Araripe. 'O desempenho da economia tem relação direta com a tecnologia da informação.'
No que diz respeito ao ambiente econômico, o resultado do Brasil foi beneficiado pela queda do risco país e pela melhora na classificação de risco pela Standard & Poor's, em fevereiro. O crescimento real médio do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, nos últimos três anos, ficou em 3,2% no terceiro trimestre, comparado a uma média de 4,2% da América Latina. A Argentina cresceu 8,5%, o Chile 6% e o México 4,1%.
'O Brasil perde no crescimento', destacou Araripe. 'Outra pesquisa mostrou que o País está em penúltimo lugar na América Latina, à frente do Haiti. É preciso haver mudanças estruturais para que aumente o nível de confiança do investidor.'
O PIB por habitante do Brasil ficou em US$ 5.054. Apesar de ser maior que a média da América Latina, de US$ 4,248, está abaixo dos outros países pesquisados. O maior é do Chile, de US$ 8.624, seguido pelo México (US$ 7.982) e pela Argentina (US$ 5.200).