Título: `Tenho amplas possibilidades¿
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2006, Nacional, p. A6

Excluído do processo eleitoral em 2006 pelo PMDB, que enterrou sua candidatura à Presidência, o ex-governador Anthony Garotinho admite que pode não disputar o cargo em 2010. Em entrevista exclusiva ao Estado, diz que poderá ser candidato a prefeito do Rio em 2008, a governador do Estado e até a senador. ¿Tenho amplas possibilidades¿, afirma. Recentemente reeleito para presidir o PMDB no Rio, ele repudia a idéia de que acabou a ¿Era Garotinho¿ - formada por seu governo (1999-abril de 2002) e o da mulher, Rosinha Garotinho (PMDB), que se encerra. ¿Se eu fosse candidato a deputado federal, quantos votos você acha que eu teria?¿, pergunta.

A era Garotinho acabou?

Não costumo emitir opiniões sem base em dados. Sou presidente do PMDB do Rio. O PMDB do Rio fez a maior bancada federal do PMDB: 10 deputados. Fez a maior bancada estadual do partido: 17 deputados. Fez o senador que promovi, Francisco Dornelles (PP), que atribui publicamente sua eleição ao meu apoio e ao apoio da governadora. Apoiamos o senador Sérgio Cabral para o governo estadual. No primeiro turno, ele teve 46 mil votos a menos que o Dornelles.

A que atribuir, então, essas interpretações?

Acho que qualquer análise, neste momento, sobre o quadro político do Rio de Janeiro só pode ser feita por dois tipos de pessoas: ressentidos ou precipitados. Quem são os ressentidos? O grande ressentido é o grande derrotado: Cesar Maia (PFL). Pela terceira vez, ele perdeu o governo do Estado. Perdeu para mim em 1998; perdeu para Rosinha em 2002, quando lançou Solange Amaral. Nesta eleição (2006), estava num estado tão deplorável que não conseguiu fazer Eider Dantas sair dos 4%. Abraçou Denise Frossard para tentar se salvar de um vexame eleitoral. Tenho 46 anos de idade. Não perdi a eleição, não disputei a eleição.

Mas o senhor admite que sai desgastado?

É obvio que não tenho, hoje, até porque não disputei a eleição, a mesma popularidade dos que viveram a campanha eleitoral e falaram o tempo todo com o eleitor. É óbvio também que as denúncias covardes que sofri, e que geraram processos judiciais que estou ganhando, provocaram desgaste.

O sonho presidencial continua?

Sou uma pessoa com 46 anos, que disputou uma eleição presidencial com 15 milhões de votos e passou um momento adverso no partido. Tenho amplas possibilidades. Posso ser prefeito do Rio, tentar ser governador novamente daqui a quatro anos, disputar uma das duas vagas para o Senado...

Comenta-se que o senhor não gostou de secretários escolhidos pelo novo governador...

Um secretário não agradou: a Benedita da Silva. Eu disse a ele: ¿Quero fazer um apelo. Eu não indiquei ninguém, não pedi nada. Você sabe o carinho que a Rosinha e eu temos pelos programas sociais. Não vá entregar esses programas na mão da Benedita, que sempre teve uma postura agressiva contra mim, até desleal.¿ Ele disse: ¿Jamais faria isso com vocês.¿ Depois fez. Fiquei aborrecido. Mas foi uma coisa de momento, passou.

Como está sua relação hoje com o governador eleito?

Essa relação eu diria que está estranha. Porque um governo que está terminando deixa tudo certo, o calendário de pagamentos, e está atendendo aos pedidos. A governadora não queria aumentar o IPVA. O Sérgio pediu, ela aumentou. Não queria prorrogar o Fundo da Pobreza, ele pediu, ela prorrogou. A governadora queria resolver a questão orçamentária com o Fundes, ele pediu, ela retirou o projeto da Assembléia. Acho que o Sérgio está mal acompanhado. Alguém está fazendo intriga.

E sobre o governo Lula?

Neste segundo governo, Lula vai desiludir o povo. Prevejo um fim de governo como o de Sarney. Ninguém vai querer ficar perto dele.