Título: Com sonho presidencial distante, Garotinho pensa em Nova Iguaçu
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2006, Nacional, p. A6
Mais que o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo fluminense, o casal de ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho (PMDB) deixa para trás, em 1º de janeiro, o sonho de usar o governo do Rio como plataforma para chegar à Presidência da República. O domínio da máquina estadual desde 1999, interrompido por nove meses em 2002 e retomado em janeiro de 2003, não foi suficiente para levá-lo a vencer nacionalmente o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, sem verbas nem cargos sob seu controle, Garotinho e a mulher tentarão reconstruir suas carreiras, na esperança de nova aventura presidencial em 2010.
Com nomeações de técnicos ligados ao governo federal, como o futuro secretário de Fazenda, Joaquim Levy, e políticos do PT, como a ex-governadora (e arquiadversária do casal) Benedita da Silva, futura secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, o novo governador, Sérgio Cabral Filho (PMDB), já indicou seu perfil. É o desenho de um aliado do governo Lula, de quem Cabral quer investimentos, como a linha 3 do metrô.
Pesquisadores apontam na saída do casal do comando do Estado sinais de encerramento de ciclo político, como aqueles protagonizados pelos governadores Chagas Freitas (1971-1975 e 1979-1983) e Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994). Mas Garotinho e a mulher têm menos de 50 anos, demonstram apetite eleitoral. Garotinho já avisou que poderá disputar em 2008 a Prefeitura de Nova Iguaçu. Rosinha é uma provável candidata a prefeita de Campos.
¿Tudo indica que começa uma nova fase no Estado. O novo governador é pessoa ambiciosa, com pretensões políticas nacionais. Tem buscado apoio em setores diferentes e montou secretariado de alto nível¿, diz o cientista político Jairo Marconi Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj). ¿O desgaste de Garotinho é definitivo. Não significa que esteja morto. Pode ser um senador, um deputado federal bem votado. Mas é difícil que volte ao governo do Rio e sua ambição presidencial está bloqueada no PMDB.¿
Adversário de Garotinho, o prefeito da capital, Cesar Maia, é cruel: ¿No Rio, certamente (o ciclo de Garotinho), acabou. Mas, como ele tem base evangélica, pode ser candidato por outro Estado.¿ Embora admita que em 2010 pode disputar outro cargo que não a Presidência (leia abaixo), o ex-governador não aceita as críticas.
¿Existem três resultados eleitorais possíveis¿, diz ele. ¿Primeiro, tem os que perdem perdendo: é o caso dele com Denise Frossard. Segundo, tem os que ganham perdendo. É o caso de Eduardo Paes, Benedita, que perderam, mas vão para o governo. O terceiro é o que querem nos impor: os que perdem ganhando. ¿Fui o grande vitorioso no Estado. Como é que vou perder?¿
Na briga pela Presidência, Garotinho naufragou duas vezes. A primeira em 2002, quando, depois de trocar o PDT pelo PSB, renunciou ao governo e se candidatou ao Planalto. Na mesma eleição, conseguiu que Rosinha fosse eleita sua sucessora. Foi nessa condição que entrou no PMDB, para tentar de novo chegar à Presidência. Abriu uma guerra contra Lula - que o ajudou a eleger-se em 1998, ao forçar o PT local a apoiá-lo, mas que começou a espantar em 1999, ao chamar o PT de ¿partido da boquinha¿.
Em 2006, veio o segundo naufrágio. Garotinho apostou na possível candidatura a presidente - Rosinha ficou no cargo após o prazo legal inviabilizando que disputasse outro posto - e perdeu no PMDB, que decidiu ficar sem candidato ao Planalto. Ele acabou sem possibilidade de mandato.
Pior: tudo isso ocorreu sob o peso de denúncias de financiamento irregular da sua candidatura por empresas fantasmas supostamente ligadas a organizações não-governamentais contratadas pelo Estado. A reação de Garotinho foi acusar as Organizações Globo de persegui-lo e fazer greve de fome que acabou cercada de piadas. Outro desgaste para um ex-governador que voltara à máquina pública como secretário de Segurança, cargo que deixou para tentar eleger Geraldo Pudim prefeito de Campos em 2004 - outro fiasco, marcado por denúncias de compra de votos.
Recentes denúncias de suposto envolvimento do ex-chefe de polícia e deputado estadual eleito Álvaro Lins (PMDB) com máfias de caça-níqueis formaram o desgaste final do casal.
A poucos dias de perder o poder, Garotinho e Rosinha assistiram a provas do fim de seu ciclo. Na Assembléia, isso se concretizou semana passada, na votação de projeto da governadora que permitia ao Estado dar em pagamento de dívidas créditos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social. A proposta empacou no plenário e Cabral ameaçou ir à Justiça se fosse aprovada. Na terça, com a possibilidade de ser derrotada, Rosinha retirou o texto. Cabral vencera o casal em retirada.