Título: Presidente iraniano desafia a ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2006, Internacional, p. A7
O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, desqualificou ontem a resolução contra seu país, aprovada no sábado pelo Conselho de Segurança da ONU, e disse que as nações que votaram a favor dela ¿irão se arrepender¿. A resolução prevê uma série de sanções ao Irã por sua recusa em suspender seu programa nuclear, suspeito de incluir a produção de armas atômicas.
¿Não faz diferença se eles aceitam ou não - o Irã é hoje um Estado nuclear estabelecido¿, desafiou Ahmadinejad, segundo a agência de notícias estatal Irna. Durante um comício em frente à antiga embaixada dos EUA, em Teerã, ele disse que a resolução é só ¿um pedaço de papel¿ e que, ao apoiá-la, os países perderam ¿a oportunidade de ter relações amigáveis com o Irã¿.
Em resposta à aprovação das sanções, Teerã iniciou ontem a instalação de 3 mil centrífugas na usina nuclear de Natanz, no centro do país. O governo havia anunciado no sábado que continuaria a enriquecer urânio - processo que pode ser usado tanto para produzir energia elétrica quanto para construir armas nucleares.
¿Já havíamos dito que, se os ocidentais quisessem recorrer ao Conselho de Segurança, não apenas não nos deixaríamos influenciar, como estaríamos mais determinados a perseguir rapidamente nossos objetivos no setor nuclear¿, afirmou o negociador-chefe do Irã para questões nucleares, Ali Larijani, segundo o jornal iraniano Kayhani.
O Parlamento iraniano começou a analisar, em regime de urgência, uma lei para que o governo ¿revise sua cooperação¿ com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).Vários deputados também pediram que o Irã expulse imediatamente os inspetores da agência do país e abandone o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
¿Não dá para esperar que tenhamos o mesmo nível de cooperação com a AIEA agora¿, disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Mohammad Ali Hosseini. Teerã insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos, apesar das suspeitas dos EUA e outros países de que estaria tentando fabricar bombas nucleares.
A resolução aprovada no sábado permite a imposição de sanções econômicas, mas não o uso da força militar. O texto proíbe os países membros da ONU de fornecerem ao Irã material e tecnologia usados no enriquecimento de urânio e na construção de mísseis balísticos (de longo alcance). Ele também estabelece o congelamento de ativos financeiros de pessoas e organizações supostamente envolvidas no programa nuclear iraniano.
O Irã recebeu um prazo de 60 dias para interromper as atividades de enriquecimento de urânio. Se ele for cumprido, as sanções poderão ser levantadas. Caso contrário, o país pode sofrer mais punições. A decisão seria tomada com base num relatório do diretor da AIEA, Mohamed El-Baradei. Mas isso só será possível se o Irã cooperar com a agência, como estabelece a resolução.