Título: Estudo sugere restrição ao uso de angioplastia em enfartados
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2006, Vida&, p. A9
Um estudo recente feito nos Estados Unidos mudou a forma de tratar pacientes estáveis de enfarte que só buscam tratamento três ou mais dias após o ataque. A tendência, dizem cardiologistas, é fazer cada vez menos angioplastias para desobstruir as artérias dessas pessoas.
A pesquisa conclui que a angioplastia - pequeno balão inflado dentro de um artéria obstruída ou estreitada, usada romper os depósitos de placas - executada mais de três dias após o enfarte não oferece a pacientes estáveis mais benefícios do que um tratamento apenas com medicamentos.
Ela ¿derruba o mito de que não importa quando você abre uma artéria obstruída, isso é melhor do que não a abrir¿, disse Mandeep Mehra, chefe de cardiologia da Universidade de Maryland. Na maioria dos casos, ¿não vamos mais abrir uma artéria obstruída 72 horas após uma ocorrência¿, afirmou.
A descoberta, publicada na revista New England Journal of Medicine, oferece novas informações sobre como lidar com pacientes tardios. Os pesquisadores investigaram se uma angioplastia numa artéria completamente obstruída entre três e 28 dias após o enfarte reduziria o risco de complicações futuras e episódios cardiovasculares graves como enfarte, morte ou falência grave do coração.
A perspectiva era que o procedimento, acrescido do tratamento medicamentoso, ¿reduzisse o risco de episódios a longo prazo, mas isso não se concretizou¿, disse Judith Hochman, principal autora e chefe clínica de cardiologia da Universidade de Nova York.
A angioplastia continua a ser recomendada nas fases agudas de um ataque cardíaco. Pacientes que ainda sentirem dores e outros sintomas vários dias após o episódio e aqueles com altos fatores de risco devem ser tratados caso a caso.
EFICIÊNCIA O acúmulo de colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias coronárias, que suprem o músculo cardíaco com oxigênio, podem obstruir o fluxo de sangue e provocar dores no peito e outros sintomas. A maioria dos enfartes ocorre quando um coágulo obstrui uma dessas artérias.
¿O estudo começou com a pergunta: abrir uma artéria obstruída ajuda uma pessoa se já se passaram mais de três do seu enfarte e essa pessoa está estável e passando bem?¿, contou Elizabeth Nabel, diretora do Instituto Nacional do Coração, Pulmões e Sangue, que financiou a pesquisa. ¿Muitos da comunidade de cardiologia achavam que a resposta seria sim. Aprendemos que pessoas com uma artéria obstruída podem passar muito bem¿, desde que recebam imediatamente tratamento com remédios.
Todos os anos, cerca de 1 milhão de pessoas tem um enfarte do miocárdio nos Estados Unidos. Dos cerca de 515 mil casos fatais, metade morre uma hora após o início dos sintomas, geralmente antes de chegar a um hospital. Cerca de um terço dos pacientes não recebe tratamento para desobstruir as artérias - seja angioplastia sejam medicamentos para destruir o coágulo - dentro do período de 12 horas recomendado.
No recém-publicado estudo, que durou cinco anos, 2.166 pacientes de 27 países, a maioria deles com obstrução em apenas uma artéria, foram submetidos a uma angioplastia com colocação de stent, mais tratamento com medicamento ou apenas à terapia com medicação.
Os medicamentos incluíram bloqueadores beta, inibidores ACE, medicamentos para tratamento de colesterol, aspirina e clopidogrel.