Título: Lula diz que não aceita interferência do Congresso no valor do mínimo
Autor: Paraguassú, Lisandra e Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2006, Nacional, p. A4

O governo não vai aceitar mudanças na proposta do novo salário mínimo acertada com as centrais sindicais. O aviso foi feito ontem pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia em que governo e sindicalistas assinaram acordo sobre o reajuste, que elevará o mínimo para R$ 380. Para a mesma platéia, Lula tocou num ponto ainda polêmico: informou que reformas, especialmente nas áreas trabalhista e previdenciária, terão de ser discutidas em seu segundo mandato.

¿Se alguém tentar extrapolar o limite do que foi acordado, não tenham dúvida de que eu veto, como vetei antes das eleições a demagogia daquele aumento que quiseram dar¿, disse o presidente. Lula se referia ao aumento de 16% para os aposentados que recebiam mais de um salário mínimo, concedido pelo Congresso contrariando a intenção do governo de dar 5%.

Depois de agradecer ao Congresso, o presidente comentou que ¿não está livre de pegar alguém que queira chegar no mês de maio e querer fazer uma `apresentação¿¿, mas pediu seriedade. ¿Até porque eu acho que o Brasil precisa de muita seriedade para que a sociedade comece a confiar no País.¿

O presidente voltou a falar da necessidade de reformas, algo que não admitia logo após reeleito. Nesse caso, porém, não atribuiu apenas ao Executivo a tarefa, afirmando que não apresentará pacote pronto. ¿É preciso que a gente tenha coragem de fazer as coisas que nós ainda não fizemos, porque fazer a mesmice qualquer um faz. E eu vou dizer para vocês uma coisa: nós vamos ter de discutir reformas.¿ Para Lula, sempre faltou discussão ao País. ¿Este país nunca foi discutido para valer, nunca foi discutido com a seriedade que precisa. Eu, agora, fui reeleito para mais quatro anos e não quero fazer o mesmo que já fiz. Já fiz, está feito. Agora temos de fazer coisa nova.¿ O presidente comemorou o ano de 2006, afirmando que muita gente ¿esperava o caos¿, mas ele não aconteceu.

O governo calcula que o reajuste do mínimo injetará R$ 8,5 bilhões na economia em 2007. Parte desse dinheiro - R$ 2,1 bilhões, segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho - entrará nos cofres do governo na forma de arrecadação de tributos. Em abril, quando o novo salário passa a vigorar, o trabalhador terá ganho acima da inflação estimado em 5,3% no ano e de 32% entre 2003 e 2007. Ou seja, mesmo incluindo o primeiro ano do segundo mandato, Lula não terá dobrado o valor real do mínimo, como prometera na campanha de 2002.

Mas, no próximo ano, o mínimo alcançará o maior valor real mensal desde novembro de 1982 - os R$ 380 poderão comprar 2,4 cestas básicas. Em 2003, o salário dava para 1,3 cesta básica.