Título: Saddam: 'Morrerei como um mártir'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2006, Internacional, p. A13

Em uma carta de despedida divulgada ontem, Saddam Hussein disse que está pronto para ser ¿sacrificado em nome do Iraque¿ e que morrerá como um ¿verdadeiro mártir¿. O ex-ditador pediu ainda que o povo iraquiano se una contra os inimigos do país.

A carta veio a público um dia após a Corte de Apelações iraquiana manter a pena de morte contra Saddam, que deve ser executado até 26 de janeiro. Ele foi condenado à forca por ser considerado responsável pela morte de 148 xiitas em Dujail, em 1982.

Divulgada num site do partido de Saddam, o Baath, a declaração teve sua autenticidade confirmada pelos advogados do ex-presidente. De acordo com eles, Saddam escreveu a carta em 5 de novembro, dia em que foi condenado.

Na mensagem, Saddam também afirmou que o Irã e os EUA são os responsáveis pela violência no Iraque e disse que apenas uma união ¿entre os filhos da nação¿ pode impedir que o país ¿caia na servidão¿. O ex-ditador, entretanto, pediu que os iraquianos não culpem os habitantes dos EUA e de seus aliados: ¿Não odeiem as populações dos países que nos agridem, saibam diferenciá-las de seus governantes.¿ Integrantes do Partido Baath ameaçaram atacar alvos americanos, caso Saddam seja executado.

Os advogados de Saddam pediram que a ONU e países árabes que intervenham para impedir a execução. ¿Se não agirem, estarão participando desse crime¿, afirmaram os advogados num comunicado. Eles vêm tentando evitar que a sentença seja cumprida, apelando até mesmo para o presidente iraquiano, Jalal Talabani. O presidente se diz contra a pena de morte, mas não tem impedido que seu vice assine sentenças de execução.

Saddam, de 69 anos, também está sendo julgado, em um segundo processo, pelo uso de armas químicas em aldeias curdas no norte do Iraque, em 1987 e 1988. Estima-se que cerca de 180 mil curdos tenham sido mortos.

O Pentágono informou ontem que enviará mais 3.500 soldados ao Kuwait no ano que vem, para servirem como uma força de reserva para possível ação no Iraque. O governo americano está analisando a possibilidade de ampliar as tropas no país. Há atualmente 134 mil militares dos EUA no Iraque.

Um carro-bomba foi detonado ontem próximo à mesquita de Abu Hanifa, no enclave sunita de Azamiyah, no centro de Bagdá. A explosão matou 17 pessoas e feriu 35. Apesar de a mesquita não ter sido atingida, o ataque pode agravar o conflito sectário, já que o templo é o mais sagrado para sunitas em Bagdá. No oeste da capital iraquiana, a explosão de três carros-bomba deixou ao menos 25 mortos.

Em outras regiões do país, mais bombas mataram outros 20 iraquianos, e a polícia encontrou cerca de 50 corpos, a maioria com sinais de tortura. Na cidade sagrada de Najaf, milhares de partidários do clérigo xiita antiamericano Muqtada al-Sadr - líder da milícia Exército Mehdi - saíram às ruas para protestar contra a morte de um combatente.

PRÍNCIPE HARRY NO IRAQUE

Segundo o tablóide britânico The Sun, o príncipe Harry, de 21 anos, lutará no Iraque. O regimento do qual ele faz parte vai para o Iraque em março. Críticos dizem que a participação do príncipe deixaria sua unidade muito visada, atraindo mais ataques suicidas.