Título: Lula culpa 'bando de aloprados' do PT e Berzoini por crise do dossiê Vedoin
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2006, Nacional, p. A4

Para tentar ficar o mais longe possível do escândalo do dossiê Vedoin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou ontem diretamente o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), pela contratação dos petistas que participaram da compra dos documentos que vinculariam tucanos à máfia dos sanguessugas. O presidente da República já havia ordenado o afastamento de Berzoini da função de coordenador da campanha.

Ontem, em entrevista de uma hora para as rádios Capital (SP) e Tupi (RJ), Lula chamou de 'aloprados' os envolvidos na operação do dossiê Vedoin. A resposta de Berzoini às afirmações de Lula veio em uma única frase, transmitida por meio de sua assessoria de imprensa: 'Se o presidente Lula falou, está falado.' Mais tarde, de novo por sua assessoria, fez um reparo. Disse que foi 'responsável pela contratação das pessoas, mas não por seus atos'.

Berzoini foi afastado do comando da campanha na quarta-feira passada, logo depois de admitir que tinha conhecimento de que Jorge Lorenzetti e Oswaldo Bargas, amigos pessoais de Lula, tinham encontro marcado com um repórter da revista Época para 'tratar de assunto jornalístico'. De acordo com a revista, os dois ofereceram um dossiê que poderia 'acabar com a reputação de alguns tucanos', entre eles José Serra, candidato a governador de São Paulo, e o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, atual prefeito de Piracicaba.

Ao empurrar toda a responsabilidade da operação do dossiê Vedoin para Lorenzetti e Berzoini, e com o atraso da PF na identificação dos envolvidos na coleta do R$ 1,75 bilhão (leia na página A8), o Planalto espera tirar, no mínimo, o foco político do escândalo de cima do presidente.

Ontem, na entrevista às rádios, Lula se recusou a dizer que errou ao escolher seus companheiros. Segundo ele, tem muita gente que se casa e, um ano depois, percebe que a mulher não era a que queria, embora o namoro tenha durado até dez anos. 'Assim é a vida humana', filosofou. Ele chamou de 'pseudo-inteligência' o setor de inteligência da campanha, também conhecido por 'Abin do PT'.

'No caso do pessoal que cuidava da pseudo-inteligência de minha campanha nem fui eu que escolhi. Quem escolheu foi o presidente do partido, que era o coordenador da campanha eleitoral', afirmou Lula. O presidente se disse interessado em saber do conteúdo do dossiê antitucano. 'Não quero saber apenas de onde veio o dinheiro, quero saber quem é que montou essa engenharia política para essa barbárie que foi feita, quero saber quem é o engenheiro que arquitetou uma loucura dessas, porque se um bando de aloprados resolveram (sic) comprar um dossiê é porque alguém vendeu para eles que esse dossiê deve ter coisas do arco-da-velha.'

Disse que os envolvidos terão de pagar. 'Quem cometeu essa barbárie vai ter de pagar, porque foi uma insanidade. Eu disse outro dia: se tivesse de construir a imagem do que aconteceu, construiria um monumento à insanidade. São pessoas que acharam que estavam marcando um gol a favor e marcaram um gol contra. Tudo o que minha campanha não precisava era que alguém cometesse o absurdo que foi cometido.'

O presidente voltou a dizer que todas as denúncias já feitas em seu governo foram apuradas com rigor, que enfrentou três CPIs e que continua no mesmo lugar. 'Podem vir com cem CPIs, não tenho medo delas, porque não tenho de ter medo.'

Confiante na vitória já no primeiro turno, domingo, Lula explicou como vê o segundo mandato. 'É como se fosse o segundo tempo de um jogo de futebol. Você não comete os mesmos erros, muda jogadores, faz as trocas que tiver de fazer.' Se reeleito, afirmou, não poderá mais fazer comparações com o governo anterior. 'Passei quatro anos comparando com o governo anterior. Agora, vou comparar com o meu, o que significa que tenho de trabalhar muito mais.'

Lula voltou a defender a convocação de uma Constituinte exclusiva para votar a reforma política, com fim da reeleição, cinco anos de mandato para o presidente e financiamento público de campanha. Afirmou ainda que o Congresso poderia debater a mudança da data da eleição para prefeitos, fazendo-a coincidir com a dos governadores e deputados.