Título: FHC quer expulsar Lula, 'o demônio', pelo voto
Autor: Scinocca, Ana Paula e Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2006, Nacional, p. A6

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso roubou a cena ontem, em ato que o PSDB promoveu em São Paulo pela ética na política e, no discurso mais contundente da noite, chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 'demônio' e o acusou de ser o responsável por todos os escândalos. 'Hoje (ontem) o presidente da República, imodestamente, comparou-se a Cristo, meu Deus. E errou porque Cristo nunca foi beijar Judas, nuca foi chamar Judas de meu companheiro. Não, não fez isso. Isso não é Cristo. Isso é o demônio'afirmou. 'Amanhã ou depois ele vai falar de novo, 'ah, os meninos se exaltaram, eles são assim mesmo, exageram'', ironizou o tucano.

Embalado pelos gritos de euforia dos militantes no Clube Espéria, na zona norte, o ex-presidente disse que é preciso 'expulsar' Lula e 'essa gente que está atrapalhando a democracia no Brasil'. E ressaltou: 'Mas vamos fazer isso pelas urnas. É voto na urna que queremos.'

Em resposta à declaração de Lula ontem de que o responsável pelo escândalo do dossiê Vedoin é o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o tucano disse que o presidente tem 'dedo podre' porque recruta mal seus auxiliares. 'A culpa não é dos que são escolhidos por ele. A culpa é de quem escolhe, porque o dedo é podre.' E, voltando-se para o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, acrescentou: 'Vamos querer ver o Brasil governado por uma mão limpa.'

O ato, em meio à crise do dossiê Vedoin, ganhou o nome 'Por um Brasil Decente', mesmo nome da coligação entre PSDB e PFL, e reuniu os principais líderes dos dois partidos. Além de FHC e Alckmin, participaram o candidato tucano ao governo paulista, José Serra, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o vice de Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE), e o prefeito do Rio, César Maia (PFL).

O evento durou quase 2 horas e reuniu 2.500 pessoas, segundo a organização. Inicialmente serviria para lançar o programa de governo de Serra - transferido para hoje -, mas, diante da subida de Alckmin nas pesquisas, virou um ato para responder aos petistas e a Lula.

FHC criticou o trabalho da PF na investigação sobre a origem do dinheiro (R$ 1,75 milhão) que seria usado para pagar o dossiê Vedoin. 'Nós queremos sim saber de onde vem esse dinheiro, quem deu a ordem. Qualquer pessoa sabe que se a PF pedir aos bancos dos Estados Unidos, em uma semana já estariam (as informações) aqui.'

Mais tarde, em jantar com comerciantes do setor de material de construção, Alckmin foi mais direto e acusou a PF de 'esconder a verdade'. 'Em 11 dias não tem quebrado nem sigilo bancário, telefônico e fiscal. Está-se ganhando tempo, enrolando, escondendo a verdade.'

FHC exigiu que o PT aceite um representante tucano para acompanhar as investigações. 'No caso Celso Daniel, os petistas vieram me pedir para ter alguém acompanhando. Acho que o Miguel Reali (ex-ministro da Justiça) pode fazer isso de nossa parte agora.'

Alckmin também explorou o fato de Lula ter se comparado a Cristo anteontem, dizendo que ofendeu o cristianismo. 'É inacreditável que numa ação cínica ele se compare a Cristo; na verdade, ele é o Judas dessa história, porque traiu o povo brasileiro.' Ele também chamou Lula de 'chefe dos aloprados', referindo-se ao fato de que o presidente classificou os envolvidos no caso do dossiê de aloprados. 'Esse pessoal que ele diz que são aloprados são sócios dele. Ele é o chefe dos aloprados.'

Serra fez um discurso mais ameno. 'Precisamos de um presidente honesto e competente que mude o rumo do desastre que está aí.'

Tucanos e pefelistas afirmaram que houve 'um despertar da população' e a eleição não será resolvida no domingo. 'A sensação é de que o País acordou de repente. Estou torcendo para ter um impeachment pelo voto', afirmou Tasso. Para ele, se Lula ganhar, o Brasil terá um 'presidente sub judice'. Bornhausen acusou Lula de 'chefe dos aloprados'. César Maia chamou o presidente de idiota e disse que seu lugar do Lula era na prisão. 'Se o presidente sabe, tem de ir para a cadeia.'