Título: Inquérito policial corre em segredo de Justiça
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2006, Nacional, p. A10
O inquérito policial que averigua o esquema do dossiê Vedoin com o PT corre em segredo de Justiça. A ordem foi decretada na semana passada pelo juiz Marcos Alves Tavares, da 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso, instalada em Cuiabá, onde está concentrada a investigação da Polícia Federal. A decisão vale para as ações da polícia em todo o País. O processo da máfia dos sanguessugas já seguia em sigilo judicial.
O superintendente em exercício da PF em Mato Grosso, Geraldo Pereira, rebateu insinuações de que a corporação estaria fazendo corpo mole. 'Estamos trabalhando com toda a força', afirmou Pereira. Ele disse também que a PF faz um trabalho profissional e independente. E negou morosidade na apuração sobre a origem do dinheiro. Segundo o superintendente, haveria 600 outras perícias de outros inquéritos na frente, mas a análise do material apreendido terá prioridade.
Para a PF, a operação de saque do dinheiro apreendido é típica do crime organizado e de quadrilhas especializadas em lavagem de dinheiro. Isso aumenta a dificuldade para refazer seu caminho.
Estão envolvidos com o dossiê empresários e petistas de São Paulo, Cuiabá e Brasília. À frente do esquema da máfia está Luiz Vedoin, proprietário da Planam, no Mato Grosso. Vedoin é investigado por tentar vender um dossiê para o PT. O partido pagaria R$ 1,75 milhão.
Em São Paulo, o ex-agente da PF Gedimar Pereira Passos e o empresário petista Valdebran Padilha foram presos. Eles seriam os negociantes e, além do montante a ser pago pelo dossiê, estavam com quatro celulares. Mas um dos aparelhos de Gedimar chegou à instituição em Cuiabá sem o chip.
O Estado apurou que o ex-agente ficou com os aparelhos em seu interrogatório no dia 15, quando foi preso. Quando foi entregá-los à PF paulista, disse que havia perdido o chip de um deles. É no chip que ficam registradas a agenda e as mensagens e ligações feitas e recebidas. No depoimento, Gedimar foi ao banheiro várias vezes. Procurado pela reportagem, o advogado do ex-agente, Cristiano Maronna, não retornou as ligações.
Valdebran também pôde continuar com seus dois celulares. Enquanto prestava depoimento, recebeu quatro ligações de Vedoin. Nos celulares apreendidos, levados a Cuiabá na quarta-feira passada, a PF identificou que Gedimar e Valdebran mantiveram contatos com pessoas em Brasília e em Mato Grosso.
Na sexta-feira, o delegado da PF Edmilson Pereira Bruno disse que Valdebran recebeu ligações de Vedoin durante a ação policial em que ele e Gedimar foram presos. O delegado foi procurado ontem pela reportagem, mas não quis se manifestar.