Título: ANJ critica Requião por tentar abrir sigilo de jornalistas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2006, Nacional, p. A12

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou ontem nota em reação à decisão do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tomada na semana passada, de pedir à Corregedoria-Geral do Ministério Público a quebra de sigilo telefônico de quatro jornalistas, da Gazeta do Povo e Folha de S. Paulo, por causa de reportagens sobre o escândalo dos grampos no Estado. Para a ANJ, o caso demonstra 'vocação autoritária e falta de espírito democrático'.

'A absurda pretensão do candidato está relacionada à cobertura jornalística que os repórteres vêm realizando a respeito dos grampos telefônicos feitos pelo policial civil Délcio Rasera, ex-funcionário da Casa Civil do governo do Paraná, que se apresentava como assessor do governador licenciado', alertou o texto, assinado pelo presidente da ANJ, Nelson Sirotsky.

'A coligação partidária tentou também exercer censura prévia, pedindo a proibição de publicação de matéria sobre o caso', diz a nota.

Para a entidade, 'é lamentável que candidatos a mandatos populares pretendam impedir o livre acesso da sociedade às informações e, mais grave ainda, pressionar profissionais da imprensa mediante a quebra do seu sigilo telefônico'.

RECUO

Ontem, em meio à repercussão do episódio, o coordenador jurídico da coligação de Requião, Luiz Carlos Delazari, disse que tudo não passou de um mal-entendido. 'O setor jurídico não havia decidido sobre isso', garantiu.

Irritado, Delazari disse, ao telefone, que o pedido para quebrar sigilo dos jornalistas seria extinto. 'Não há procuração nos autos e não vamos anexá-la', afirmou. 'E não vou declarar mais nada.' Para dar continuidade ao processo, o MP pediu que o advogado apresentasse uma procuração de que seria o representante da coligação.

O pedido para quebrar o sigilo havia sido encaminhado por outro advogado da coligação Paraná Forte, Cezar Ziliotto. Ele argumentava que o processo das escutas corria em segredo de Justiça e o vazamento de depoimentos e documentos poderia configurar 'ato ilícito'.

O Sindicato dos Jornalistas do Paraná também emitiu uma nota para 'deplorar' a atitude da coligação, por tentar 'intimidar e restringir o trabalho' dos repórteres. 'Se documentos sigilosos foram vazados à imprensa, que se investigue e que se punam os responsáveis. O que não se admite é a tentativa de políticos impedirem ou intimidarem jornalistas no exercício de sua atividade.'

DENÚNCIAS

Enquanto isso, a Promotoria de Investigação Criminal protocolou duas denúncias envolvendo os acusados de grampo no Paraná. O primeiro, na Comarca de Campo Largo, onde o processo começou, cita 20 pessoas por interceptação telefônica, quadrilha armada e advocacia administrativa. A outra, em Curitiba, contra Rasera, por porte ilegal de armas e munições.

Entre os denunciados está também o diretor da Imprensa Oficial do Paraná, João Carlos Formighieri.