Título: PF indicia Mercadante e outros 6 por dossiê eleitoral contra tucanos
Autor: Piccioni, Catarine
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2006, Nacional, p. A4

A Polícia Federal indiciou ontem cinco acusados de participar da tentativa de compra do dossiê Vedoin, criado para atribuir a políticos tucanos envolvimento com a máfia dos sanguessugas. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o então tesoureiro da campanha petista ao governo de São Paulo, José Giácomo Baccarin, foram indiciados por crime eleitoral, como adiantou ontem o Estado. Os petistas Gedimar Passos (advogado), Valdebran Padilha (empreiteiro) e Hamilton Lacerda (coordenador de comunicação da campanha de Mercadante) foram indiciados por lavagem de dinheiro. Outras duas pessoas - donos de agência de câmbio na Baixada Fluminense - já tinham sido formalmente acusadas.

O relatório divulgado ontem pela PF finaliza o inquérito iniciado há mais de três meses. Suas conclusões afastam o caso do Palácio do Planalto, apesar de terem sido apontados inicialmente indícios de envolvimento de Freud Godoy, amigo e segurança do presidente Lula, e de outros três envolvidos diretamente ligados à campanha pela reeleição - Jorge Lorenzetti, ex-coordenador da inteligência da campanha, Oswaldo Bargas, integrante do comitê, e Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil que se licenciou para ajudar na reeleição. O delegado responsável pelo inquérito, Diógenes Curado Filho, descartou também o crime de formação de quadrilha, por entender que não ficou comprovada a ¿associação estável e permanente de pessoas para a realização de mais de um delito¿.

MALAS Após 96 dias de investigação, Curado concluiu que Hamilton Lacerda é o responsável pela entrega do R$ 1,75 milhão (R$ 1,168 milhão e US$ 248 mil) aos emissários petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, presos com o dinheiro em 15 de setembro em um Hotel Ibis em São Paulo. Lacerda foi flagrado por câmeras de circuito interno do hotel carregando malas que, para a polícia, continham a quantia apreendida.

Mesmo com mais de mil quebras de sigilo telefônico, 1 milhão de movimentações bancárias analisadas e a tomada de 29 depoimentos no inquérito, a polícia não conseguiu apurar a origem do dinheiro utilizado na negociação do dossiê contra os tucanos, fornecido pelos empresários Luiz Antonio Vedoin e Darci Vedoin, chefes da máfia dos sanguessugas. A hipótese de que parte do dinheiro teve origem nas bancas de jogo do bicho não ficou plenamente comprovada.

Diante da constatação de que o montante em reais não passou pelo sistema bancário e avaliando que Mercadante poderia ser beneficiado eleitoralmente pela divulgação de informações contra políticos do PSDB, a PF crê que parte do dinheiro utilizado na negociação é oriundo de caixa 2 do diretório paulista do PT.

Quantos aos US$ 248 mil apreendidos, o relatório final do inquérito informa que saíram de Miami (EUA), passaram por um banco alemão e pelo Sofisa antes de chegar à casa de câmbio Vicatur, na Baixada Fluminense, onde foram retirados por meio de operações realizadas por laranjas. Perícia demonstrou que seis boletos de vendas da Vicatur eram equivalentes aos valores do montante apreendido.

¿Transações que levaram à mesma somatória no período de negociação do material não podem ser tratadas como mera coincidência¿, afirmou o superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz.

Além dos cinco indiciados ontem, os donos da Vicatur, Fernando Ribas e Sirlei Chaves, foram acusados em outubro por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro nacional. Lorenz informou que a Polícia Federal vai instaurar outros inquéritos para apurar condutas tipificadas na lei de crimes contra o sistema financeiro.

Em despacho divulgado na noite de ontem, o juiz da 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso, Jeferson Schneider, informou que ¿declinou da competência' para processar e julgar o senador Mercadante. Como parlamentar, o petista tem direito a foro privilegiado, o que significa que a acusação contra ele deve ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal.