Título: Acusação é inaceitável, diz senador
Autor: Oliveira, Clarissa e Pereira, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2006, Nacional, p. A5

O senador Aloizio Mercadante criticou duramente a decisão da Polícia Federal de pedir seu indiciamento no relatório final do inquérito sobre a tentativa de compra do dossiê Vedoin. Sob o argumento de que em três meses de investigações seu nome jamais foi citado como parte do esquema, o senador disse esperar que a Justiça rejeite as acusações.

¿É inaceitável¿, disse Mercadante, ressaltando que ainda não tinha tido acesso a informações oficiais da PF sobre o pedido de indiciamento ou ao conteúdo do relatório final do delegado Diógenes Curado Filho. ¿Tenho certeza de que a Justiça não vai permitir essa atitude.¿

Ele afirmou que a notícia de seu indiciamento demonstra que as investigações tomaram um caminho ¿inquisicional¿ e ¿sem nenhum amparo legal¿. Esse rumo teria relação com o fato de a PF não ter conseguido comprovar a origem do dinheiro que seria usado na compra do dossiê contra políticos tucanos. Mercadante lembrou ainda que se apresentou espontaneamente à PF para colaborar com o inquérito e ressaltou que, como parlamentar, dispõe de foro privilegiado.

As declarações do petista contrastam com as feitas repetidamente por ele na reta final da campanha eleitoral, quando disputava o governo de São Paulo. Desde que veio a público o envolvimento no caso de Hamilton Lacerda, ex-assessor de comunicação de sua campanha, o senador insistia em que confiava no trabalho da PF e as investigações iriam inocentá-lo.

José Roberto Leal de Carvalho, advogado do tesoureiro da campanha de Mercadante, José Giácomo Baccarin, disse ontem que desconhecia o relatório da PF. ¿A única notícia que eu tenho é a que o Estado publicou hoje (ontem), de que o professor Baccarin e Mercadante seriam indiciados.¿ O advogado reiterou que seu cliente demonstrou em depoimento na PF em São Paulo que a contabilidade da campanha não continha nenhuma irregularidade. E ressaltou que deixou uma cópia da prestação de contas com o delegado Diógenes Curado.

¿O professor Baccarin é um homem de seriedade tão reconhecida que foi escolhido pelo senador Mercadante como responsável pelas finanças de sua campanha. Ele desconhece qualquer fato relativo a esse chamado dossiê Vedoin. E as contas da campanha estão absolutamente em ordem¿, assegurou Leal.

O advogado de Lacerda, Alberto Zacharias Toron, considerou o indiciamento um ¿verdadeiro absurdo¿, feito ¿por alguém que ou não conhece a lei, ou não leu os autos do inquérito¿. ¿Chega a ser medonho. Não tem crime, inventamos um. Mas infelizmente é assim.¿

Toron afirmou que nos autos não há provas da origem do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê nem de que ele tenha sido formalizado no mercado. O advogado disse que aguardaria ¿serenamente a remessa dos autos à Justiça Federal para ver o que o excelentíssimo procurador da República fará¿.

Luciano Anderson de Souza, advogado de Gedimar Passos, considerou as conclusões do inquérito ¿absurdas, inadequadas e ilegais¿ e afirmou que seu cliente desconhece a origem e destino do dinheiro.