Título: Estado terá de induzir o crescimento, diz banqueiro
Autor: Filho, milton F da Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2006, Economia, p. B3

O Brasil pode crescer 5% nos próximos quatro anos, mas terá de garantir recursos para investimento em infra-estrutura e manter políticas que estimulem a concessão de crédito. O governo também terá de melhorar a disciplina fiscal. Essas são as condições para um crescimento econômico sustentado nos próximos anos, segundo Marcio Cypriano, presidente do maior banco privado do País, o Bradesco. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.

Qual a perspectiva para a economia brasileira em 2007? Nossas projeções indicam que o crescimento prosseguirá, em bases mais fortes que em 2006, fruto da continuidade da queda dos juros e de medidas do governo, que estão razoavelmente antecipadas. Certamente, teremos uma agenda organizada de investimentos na infra-estrutura, com maiores oportunidades de negócio em parcerias do setor público com a iniciativa privada e outras medidas. O crédito será outro importante indutor do crescimento, com aumento no volume de aplicação por parte dos bancos, principalmente no financiamento imobiliário.

O sr. acha que há mais espaço para se reduzir os juros no mercado interno? Ainda há temor de volta da inflação? Os juros estão em declínio há mais de um ano e não há sinais de parada nesse processo. Pelo contrário, as indicações apontam para o contrário, os juros vão continuar caindo, com reflexos positivos para os indicadores de atividade econômica. Não há, por enquanto, temores em relação à inflação. O câmbio permanece estável, o superávit primário continua dentro da meta, assim como a inflação. É preciso cuidado com o gasto público, que não pode crescer como vem crescendo.

O sr. defende uma agenda de reformas no segundo mandato? Algumas reformas devem ser propostas e elas são necessárias para aumentar a eficiência fiscal do País e corrigir questões estruturais que travam o crescimento. É preciso reduzir o peso dos impostos sobre o setor produtivo e de serviços para permitir mais investimentos. Somos otimistas, pois o Brasil tem todas as condições de voltar a crescer, sem abrir mão da estabilidade monetária. Em relação à taxa de crescimento, na campanha eleitoral, criou-se o paradigma de 5%, e em torno desse número estabeleceu-se a polêmica sobre se isso é possível ou não. Para mim, não é fundamental. O importante é sinalizar que o País vai crescer mais que este ano, um pouco mais no próximo, e assim sucessivamente, por vários anos. Precisamos dessa previsibilidade para aumentar os investimentos.

O Bradesco tem forte presença no financiamento à exportação. Quais as perspectiva de crescimento neste setor? O setor externo brasileiro está vivendo um período de grande estabilidade, algo muito importante e relativamente novo do ponto de vista do nosso histórico de problemas nesse fronte. A balança comercial, em 2007, deverá prosseguir apresentando resultados fortes, embora abaixo dos de 2006. Nossas projeções apontam para algo ao redor de US$ 40 bilhões de superávit, um pouco menos até, com exportações estáveis e importações mais altas, como resultado do aumento da demanda interna.

E o crédito no mercado interno, qual a perspectiva do banco para 2007? O Bradesco mantém um desempenho que considero exemplar. Nos últimos dez anos, crescemos nossa carteira de crédito a taxas de 22% ao ano, na média, o dobro em relação ao mercado, que cresceu 11%. No balanço de setembro, alcançamos uma carteira de R$ 92 bilhões. Em 2007, com a queda dos juros e novo impulso na economia, vamos manter o ritmo de crescimento dos últimos dez anos. O aspecto positivo adicional é que o índice de inadimplência permanece estável, sem gerar preocupação, mesmo com a evolução contínua da carteira, principalmente nas pessoas físicas.