Título: Dilma traça perfil para ministros
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2006, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer formar uma equipe de ministros com perfil ¿duplo¿ para o segundo governo. Foi o que afirmou ontem, em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Considerada a pessoa mais influente na equipe de Lula, ela disse que o presidente não quer subordinados apenas técnicos ou apenas políticos, mas nomes com conhecimento da área e, ao mesmo tempo, que tenham compromisso público. ¿O presidente vai fazer questão da característica dupla, de técnicos comprometidos com o País.¿

Ela elogiou a atuação dos ministros ¿tampões¿ no governo, secretários-executivos que assumiram as pastas em épocas de crise e de eleições. ¿Todos os ministros técnicos se saíram muito bem.¿

Dilma citou Paulo Sérgio Passos (Transportes), Nelson Machado (Previdência) e Fernando Haddad (Educação). ¿Eu não os chamaria de tampões¿, afirmou. ¿Não há ministro de primeira ou segunda categorias.¿

A ministra lembrou que Lula deixou claro que não tem pressa em anunciar nomes para os ministérios. A equipe do segundo governo só deverá ser conhecida, de acordo com ela, no fim de janeiro. ¿Um governante que ganha uma eleição passa por um teste. Já temos uma equipe.¿ Dilma minimizou a influência e o poder que conseguiu no governo, chegando a dizer que não sabe se continuará na equipe.

REGIME

Descontraída, a ministra disse estar fazendo regime. Durante a conversa, tomou apenas uma xícara de café e comeu alguns pedaços de queijo. ¿Moro em Porto Alegre, eu não sou mais nem mineira¿, disse ela, que nasceu em Belo Horizonte, foi guerrilheira nos tempos da ditadura militar e desenvolveu carreira na capital gaúcha.

Ela evitou entrar em questões polêmicas. Dilma afirmou que seu papel no governo é avaliar a consistência dos projetos de lei e fazer a integração dos ministérios, buscando sempre o consenso. ¿Aqui, para resolver um assunto, o presidente sempre faz três reuniões.¿

A uma pergunta se o governo não teria problema em dar a outros partidos pastas que atualmente estão nas mãos dos ¿tampões¿, como Transportes, ela respondeu que as legendas não vão impor nomes. Dilma disse que as pessoas erram ao conceituar políticos e técnicos. ¿Todos temos um viés incorreto de tratar o político e o técnico. Acho que um ministro tem de ter um compromisso político, isso não é técnico, pois ele é representante de seu povo.¿

Dilma lembrou que, durante o regime militar, técnicos sem ¿compromisso com o País¿ assumiram posições importantes de Estado, uma experiência que, segundo ela, não foi boa. ¿A tecnocracia tem grave apelo em regimes ditatoriais. Não podemos fazer uma leitura simples da tecnocracia.¿

A ministra disse ser uma ¿técnica¿, mas com uma trajetória política. Segundo Dilma, não basta procurar bons técnicos no mercado para resolver os problemas. ¿Se fosse assim, poderíamos importar um técnico americano ou um da Comunidade Econômica Européia. O governo quer especialista na área que tenha característica política.¿

A entrevista, que durou cerca de uma hora, foi interrompida quando a ministra recebeu telefonema do chefe de gabinete pessoal da Presidência. Gilberto Carvalho avisou que o presidente Lula queria conversar com ela.