Título: Bandidos prometem 'Rio de sangue'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2006, Metrópole, p. C3
Pelo menos 18 pessoas morreram e 25 ficaram feridas em 27 ataques a ônibus, delegacias, carros e cabines da polícia iniciados no fim da noite de quarta-feira. O terror tomou conta de todo o Rio, da zona sul à oeste, e atingiu ainda o Grande Rio (incluindo a Baixada Fluminense). O comércio fechou em Taquara, zona oeste, Méier e Tijuca, zona norte, e no centro. Empresas como a Petrobrás e órgãos do governo liberaram os funcionários mais cedo. A polícia reforçou o policiamento em 12 favelas. Houve confrontos no Morro da Mineira, zona norte, e na Favela do Dique, zona oeste.
No caso mais dramático, sete pessoas morreram carbonizadas e 12 ficaram feridas depois que criminosos incendiaram um ônibus interestadual da Viação Itapemirim, na Avenida Brasil (zona norte). Noutra ação, uma ambulante foi assassinada e seu filho de 6 anos baleado na cabeça.
Os criminosos deixaram em um dos locais atacados um bilhete acusando o casal Garotinho de compactuar com milícias, grupos clandestinos de policiais que atuam em favelas. Essas quadrilhas expulsam traficantes, cobram proteção de comerciantes e exploram serviços como TV a cabo pirata e distribuição de gás. No texto, os criminosos prometeram um ¿Rio de sangue¿.
O primeiro atentado foi registrado às 23h50. Dois PMs do 31.º Batalhão passavam pela Avenida Ayrton Senna, na Barra da Tijuca, quando foram cercados por vários homens em dois carros. O cabo Marcelo da Silva Oliveira foi baleado e morreu na hora. O soldado Alan do Vale, também ferido, reagiu e matou um dos criminosos. Ele dirigiu até o Hospital Lourenço Jorge, onde foi internado.
À meia-noite e meia, a 28.ª Delegacia de Polícia (Campinho) foi cercada por criminosos que fizeram dezenas de disparos. Luís Carlos da Silva deixava a delegacia, onde havia registrado queixa de ameaça. Foi morto com um tiro na cabeça. A 6.ª DP (Cidade Nova), a 29.ª DP (Madureira) e a Delegacia de Repressão a Entorpecentes, no Grajaú, tiveram vidraças quebradas em ataques.
Os policiais Max Araújo Sobreiro e Alexander Barbosa Pinto foram baleados na cabine em frente ao Shopping Nova América, em Del Castilho, zona norte. Próximo ao Norte Shopping, no mesmo bairro, em novo confronto, dois homens foram atingidos por balas perdidas. Às 10 horas, o policial Robson Padilha Fernandes foi morto com 12 tiros. Ele estava num carro da PM estacionado na Avenida Epitácio Pessoa, na Lagoa (zona sul)em frente à casa do ex-secretário de Segurança Marcelo Itagiba. Em Mesquita, na Baixada Fluminense, dois criminosos foram mortos em ataque ao Posto de Policiamento Comunitário (PPC) de Olinda.
Em Itaboraí, no Grande Rio, traficantes lançaram bombas caseiras contra uma agência da Caixa e o Restaurante Popular. Ao todo, 12 ônibus foram incendiados pelos criminosos - oito foram queimados nas zonas norte e oeste do Rio, três na Baixada Fluminense e um em Niterói, no Grande Rio. Três suspeitos de terem participado do ataque ao ônibus da Itapemirim foram presos. Graciel Maurício do Nascimento Campos, de 18 anos, Cléber de Carvalho Fonseca, e Ézio Guilherme de Oliveira, ambos de 23, são moradores de uma favela em Duque de Caxias (Baixada Fluminense).