Título: Secretários vêem união de facções rivais
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2006, Metrópole, p. C5

Reação a milícias de policiais que passaram a dominar favelas, medo de mais rigor nos presídios, tentativa de intimidar o novo governador, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que assume na segunda-feira. Autoridades do Estado se dividiram ontem na tentativa de explicar os ataques que se espalharam pela cidade. O secretário de Segurança Pública, Roberto Precioso Júnior, e o de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, divergiram publicamente pela imprensa e só concordaram numa coisa: as facções estão agindo em conjunto.

Precioso atribuiu os ataques a uma suposta insatisfação de presidiários com a troca de governo. Disse que o sistema penitenciário atual está ¿acomodado¿ e presos temem possível endurecimento. A tal ponto que as facções Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Terceiro Comando uniram-se para promover ataques. ¿Não há acomodação, há ação¿, reagiu Astério. ¿Não tem nada a ver com mudança de governo. Esses atos estão sendo desenhados há mais de dois meses. O serviço de inteligência da União, do Estado e até o município já sabiam. A governadora (Rosinha Matheus)também sabia. Todos sabiam da possibilidade de união de facções em razão das milícias, que são altamente perniciosas para a administração pública.¿

Precioso retrucou. ¿Esse assunto de milícias para mim é uma grande besteira, não existe¿, disse, referindo-se a organizações de policiais, bombeiros, agentes penitenciários e seguranças que têm expulsado traficantes de favelas, sobretudo na zona oeste, mediante cobrança de mensalidades de moradores. Para ele, é um erro misturar justiceiros e segurança irregular ¿no mesmo saco¿.

Astério disse ter recebido no dia 26 relatório da inteligência alertando para ataques. A ordem teria saído de penitenciárias. Determinou, então, o isolamento de chefes de facções em Bangu 3. O relatório mencionaria escutas indicando que o traficante Jorge Ferreira, o Gim, que atua na Cidade de Deus, zona oeste, se reunira com comparsas da Mangueira, na zona norte. As duas favelas são dominadas pelo Comando Vermelho (CV).

Fontes da Administração Penitenciária confirmaram insatisfação de líderes de facções, especialmente do CV, com prejuízos causados pela expulsão dos traficantes por milícias, sobretudo na zona oeste. Um dos últimos redutos dos traficantes aí é a Cidade de Deus, onde moradores têm notado a presença de traficantes de outras favelas tentando se fortalecer.

Para os dois secretários, é alarmante o processo de aproximação de facções, novidade no Rio. Até agora, especialistas apontavam inexistência no Rio de ações semelhantes às do PCC devido à disputa entre bandidos.