Título: Bolsa é líder no ranking das aplicações; dólar fica na lanterna
Autor: Dolis, Rosangela
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2006, Economia, p. B1

Pelo quarto ano consecutivo, a bolsa de valores foi a melhor aplicação. A bolsa paulista fechou o ano de 2006 com alta de 32,93%. Os motivos da valorização vieram sobretudo do cenário externo: o aquecimento da economia mundial, que favoreceu empresas de alguns setores, e a sobra de dólares levaram os investidores às bolsas, que subiram com vigor ao redor do mundo.

No ranking nacional, os fundos multimercado, que atuam principalmente em bolsa e contratos de câmbio e juros, ficaram em segundo lugar, com rendimento líquido de 16,62% até o dia 22. O ouro ocupa o terceiro lugar, com valorização de 12,69%, seguido de perto pelas aplicações remuneradas por juros, com destaque para fundos de renda fixa, com rendimento médio líquido de 12,31%. E o dólar ocupa o último lugar, com queda de 8,13%. A inflação no ano medida pelo IGP-M foi de 3,83%.

O bom momento da bolsa nos últimos quatro anos, com alta de 294,69%, coincide com o período do primeiro mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ¿o pano de fundo do avanço nos pregões foi o cenário externo¿, explica Alexandre Maia, economista-chefe e sócio da Gap Asset Management. ¿O governo de Lula não passou por nenhuma crise externa, só teve vento a favor¿, diz Fábio Colombo, administrador de investimentos.

Os motores que impulsionaram as cotações citados pelos analistas foram o crescimento mundial médio robusto no ano, na casa dos 5%, o crescimento na casa dos 9% a 10% ao ano da China e outros países asiáticos, a inflação mais baixa nos países e a liquidez abundante, ou seja, a sobra de dólares que acaba sendo atraída para as bolsas.

As bolsas subiram de forma expressiva ao redor do mundo em 2006: entre os países emergentes, as altas, até quinta feira, eram de 92,5% na China, 66,2% na Rússia, 47,3% na Índia, 47,1% no México e 34,5% em Hong Kong. A bolsa de Nova York subiu 16,7% (Dow Jones) e a da Alemanha, 22,2%.

Internamente, o fator negativo à bolsa representado pelo baixo desempenho da economia, com previsão de crescimento reduzida a 2,7%, foi compensado por outros positivos. ¿Tivemos inflação baixa, setores que se beneficiaram da onda mundial de crescimento, como os de mineração e petróleo, e setores que cresceram internamente, como o imobiliário e o de varejo¿, diz Maia.

Favoreceu também a bolsa o fato de o governo ter aproveitado o boom global para fazer uma ¿faxina externa¿, com recompra de dívida aumento das reservas. ¿Isso melhorou a percepção do risco oferecido pelo País ¿, explica Maia.

O fraco desempenho do dólar está associado ainda ao contexto externo, onde sobram dólares. ¿Só não caiu mais porque o Banco Central age na ponta de compra¿, diz Maia. No governo Lula, o dólar recuou 41,16%.

Apesar da queda dos juros em 2006 - a taxa básica de juro (Selic) saiu de 18% ao ano em janeiro para 13,25% -, o retorno na renda fixa foi ¿espetacular¿ em 2006, afirma Colombo. Confrontada com a inflação do ano de 3,83% ( IGP-M), a rentabilidade líquida média na casa dos 12% oferecida por essas aplicações representou ganho real próximo de 8%.

POUPANÇA

A caderneta de poupança figura no ranking do ano na última posição entre as aplicações de renda fixa, com rendimento de 8,33% no ano e ganho real de 4,33% acima da inflação. A aplicação só ganhou força ante as demais opções de renda fixa a partir do meio ano, quando os fundos de investimento passaram a ter a rentabilidade afetada pela aceleração do corte da taxa básica de juros enquanto a caderneta manteve seu rendimento.

A queda de juros trouxe destaque também para os fundos multimercado. ¿O gestor aplica onde detecta oportunidades em principalmente três mercados, os de bolsa, dólar e juros¿, explica Maia. Da captação líquida total (depósitos menos saques) de R$ 65,3 bilhões pelos fundos em 2006, R$ 53,15 bilhões foram atraídos pelos fundos multimercado, segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

PARA 2007

A repetição do bom desempenho das bolsas no próximo ano vai depender da continuidade do cenário externo favorável. ¿Se a China e outros países asiáticos continuarem crescendo em ritmo acelerado, se não houver crise global e se os Estados Unidos não entrarem na temida desaceleração econômica, a bolsa poderá chegar, numa projeção otimista moderada, a 55 mil pontos no fim de 2007¿, diz Colombo. Isso representa uma alta de 23,67%, ante os 44.473 pontos do fechamento de ontem. Mas ele afirma que está bastante cauteloso com a bolsa em 2007, porque é normal que, após um período tão longo de valorização, os investidores vendam seus papéis para realizar os lucros polpudos.

Mesmo com a provável continuidade do corte dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em 2007, a expectativa é que as aplicações de renda fixa continuem oferecendo ganho bem acima da inflação. Maia estima que a Selic, hoje de 13,25% ao ano, chegará a algo entre 11,5% e 12% em 2007.

O cenário de corte das taxas favorece a caderneta de poupança. Enquanto os fundos são afetados, a caderneta mantém a rentabilidade. Segundo cálculos do professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho, com a taxa básica de juros a 13,25% ao ano, a caderneta de poupança já rende acima dos fundos que cobram taxa de administração a partir de 3% ao ano; com a taxa básica a 12% ao ano, nível que poderá ser atingido em 2007, segundo analistas, a caderneta poderá superar fundos com taxa superior a 1,5%.

Para o dólar, é esperada baixa oscilação. A grande oferta da moeda poderia derrubar as cotações da moeda de forma expressiva, mas a expectativa é que o Banco Central continue a controlar as cotações.