Título: Procurador pede ação penal contra família Maluf
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2006, Nacional, p. A11

O Ministério Público Federal requereu ontem à Justiça abertura de ação penal contra o ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996), acusado de crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A base da ação são documentos bancários que Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha, mandou para o Brasil depois de quase 7 anos de uma batalha judicial internacional.

Os papéis, na avaliação do Ministério Público, fecha um longo e exaustivo processo de investigação sobre corrupção porque aponta a Eucatex Indústria e Comércio, empresa dos Maluf, como destino final de US$ 92, 2 milhões que teriam sido desviados dos cofres da Prefeitura de São Paulo. A denúncia indica 14 contas do esquema que teria sido montado por Maluf e seu filho Flávio.

Foram identificadas quatro offshores supostamente constituídas para movimentar os recursos ilícitos: Durant International, Sun Diamond, Macdoel Investment e Kildare Finance. O MPF afirma que Maluf e sua família lavaram recursos originários de corrupção passiva. O MPF se surpreendeu com o volume de dinheiro que os Maluf movimentaram em Jersey, cerca de US$ 170 milhões.

A denúncia será examinada pela 2.ª Vara Criminal Federal de São Paulo. O MPF pediu a retenção dos passaportes de Maluf e de familiares dele. A ofensiva do MPF não interfere na diplomação de Maluf, eleito deputado pelo PP com 739.827 votos. A diplomação ocorrerá hoje. Diplomado, Maluf ganha foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal.

Os papéis de Jersey dão sustentação à denúncia de 94 páginas, subscrita pelo procurador da República Rodrigo de Grandis. Além de Maluf, o procurador acusa a mulher do ex-prefeito, Sylvia, os quatro filhos do casal (Flávio, Otávio, Lígia e Lina), outros dois familiares (Jacqueline Torres, mulher de Flávio, e Maurílio Miguel Curi, genro dos Maluf)e três doleiros, Hani Kalouti, Roger Clement Haber e Myrian Haber.

Segundo o MPF, Maluf repatriou recursos em favor da Eucatex, que passa por um processo de recuperação judicial. Ele teria criado fundos de investimento no Deutsche Bank International de Jersey.

De julho de 1997 a fevereiro de 1998, os fundos Mercosurian Challenge, Latinvest e Latin American adquiriram US$ 92,2 milhões em debêntures conversíveis em ações da Eucatex.

Paulo Maluf rebateu a acusação. Por meio de sua assessoria, declarou: 'Maluf e nenhum de seus familiares têm conta no exterior. A operação financeira que envolve a Eucatex através de investidores estrangeiros representados pelo Deutsche Bank é perfeitamente legal, tanto que foi aprovada pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários.'