Título: Brasil se dispõe a mediar crise entre Evo e a oposição
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2006, Internacional, p. A14
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, indicou ontem que o Brasil está disposto a intermediar o diálogo entre o governo de Evo Morales os setores da oposição boliviana, desde que seja chamado a essa tarefa. Depois de ter recebido o chanceler boliviano, David Choquehuanca, Amorim disse que espera ver o conflito político da Bolívia ser resolvido por meio do diálogo - uma indicação de que o governo brasileiro não pretende assistir a novos impulsos autoritários no país vizinho.
¿Temos mantido uma boa relação com o governo boliviano e não queremos interferir em questões internas da Bolívia. Mas sempre estamos abertos ao diálogo. Sempre que pudermos ajudar em algo, nós ajudaremos, dependendo de haver uma manifestação de desejo nesse sentido¿, afirmou.
O Itamaraty observa com preocupação o aumento da tensão entre os setores opositores e o governo Evo, que se mostra também pressionado a cumprir promessas eleitorais feitas aos movimentos populares. O conflito aprofundou-se desde que o governo passou a interferir nos processos de decisão da Assembléia Constituinte, convocada pelo próprio Evo. Além disso, quatro departamentos (Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando) exigem autonomia política em relação ao governo central.
Na sexta-feira, líderes das quatro regiões promoveram manifestações em massa para exigir mais independência em relação ao poder central e forçar Evo a desistir da intenção de aprovar por maioria de 50% mais 1 os artigos da nova Constituição. A oposição exige a adoção da maioria de dois terços.
COCA
Em Cochabamba, Evo anunciou ontem uma nova política que amplia de 12 mil para 20 mil hectares o limite para o cultivo legal da folha de coca no país. Pela lei antidrogas, de 1988, agricultores bolivianos podem cultivar a folha de modo legal na região de Yungas, em La Paz, e no Chapare, em Cochabamba.
Evo - que surgiu para a política como líder sindical dos plantadores de coca do Chapare - anunciou que seu governo erradicou neste ano mais de 5 mil hectares de cultivos considerados ilegais. A Embaixada dos EUA em La Paz, no entanto, afirma que o cultivo cresceu em até 30 mil hectares em 2006.
A planta, principal insumo para a fabricação da cocaína, é produzida para o uso tradicional e histórico dos indígenas bolivianos. Com o apoio da Venezuela, a Bolívia pretende fabricar tecidos, sabonetes e pastas de dente com o produto.