Título: Lula diz que promessas só falharão se houver 'fatores extraterrestres'
Autor: Monteiro, Tânia e Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que só "fatores extraterrestres" o impedirão de cumprir promessas de campanha. "Tenho até dúvidas se a gente conseguirá fazer tudo, mas de uma coisa podem ter certeza: não será por falta de esforço, compromisso e lealdade aos princípios que me fizeram chegar à Presidência que não vamos cumprir", afirmou, em discurso de cerca de 30 minutos para uma platéia de educadores. "Se a gente não cumprir, é porque houve fatores extraterrestres."

No início do governo, no auge da popularidade e usufruindo de prestígio em diferentes meios da sociedade, Lula recorreu a fenômenos da natureza para assegurar que iria fazer as reformas da Previdência e do sistema tributário. "Podem estar certos de que não tem chuva, geada, terremoto, cara feia, Congresso e Judiciário (...) capazes de impedir que a gente faça este país ocupar lugar de destaque", disse à época, num evento da Confederação Nacional da Indústria.

Ao abrir o 1º Congresso Interamericano de Educação em Direitos Humanos, em Brasília, além de reafirmar suas promessas, Lula aproveitou para atacar seu principal adversário na disputa presidencial, o tucano Geraldo Alckmin. Disse que São Paulo não conseguiu boa colocação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), numa crítica indireta ao ex-governador. "O maior Estado da Federação, o mais rico, ficou em oitavo lugar, significando que, em termos de educação, estamos precisando melhorar muito o País", afirmou Lula.

O presidente disse que São Paulo não aceitou participar de uma avaliação feita pelo Ministério da Educação no ensino de 4ª a 8ª série. "São Paulo não participou, possivelmente, com medo de que a gente detectasse que a propaganda da qualidade da educação não fosse tão boa quanto se dizia."

O candidato à reeleição também reclamou da Justiça Eleitoral, que teria proibido o governo de distribuir cartazes convidando estudantes para participar das Olimpíadas de Matemática. Segundo o presidente, ainda assim, só neste ano 14 milhões de estudantes se inscreveram para o concurso.

Lula voltou a afirmar que não adianta o País crescer sem distribuir renda. Segundo ele, é preciso distribuição de renda e melhoria da educação para dar uma "resposta" aos anseios da sociedade.

Ele retomou o discurso preferido no início do governo ao comentar a questão dos direitos humanos no País. Avaliou que o combate à fome não está dissociado da luta pelos direitos humanos. "Houve um tempo em que direitos humanos era visto pela sociedade apenas como uma coisa para defender presos políticos", disse. "Muitas vezes setores mais atuantes da Igreja Católica eram condenados e acusados de defender bandidos. Direitos humanos significava defender bandidos."

BOM MOMENTO

À tarde, durante visita às obras do Terminal de Granéis do Guarujá, no Porto de Santos, o presidente conclamou a iniciativa privada e os governos a acelerarem os investimentos em infra-estrutura no País para aproveitar, segundo ele, o bom momento vivido na economia.

Lula, no entanto, não comentou o frustrante crescimento de apenas 0,5% do PIB no trimestre, divulgado ontem pelo IBGE, nem deu entrevistas. O resultado mostra o pior desempenho da economia desde o terceiro trimestre de 2005.