Título: 'Economist': presidente surfa para a vitória
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2006, Nacional, p. A5

Reportagem da revista britânica The Economist desta semana afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "está surfando para a vitória numa onda de bem-estar misturada com apatia".

"A apatia é gerada pelos problemas que Lula não conseguiu resolver ou, em alguns casos, agravou", avalia a revista, lembrando que as taxas de juros no Brasil continuam elevadas e a carga tributária saltou para 37% do PIB. Mais: "A corrupção nunca pareceu tão espalhada." A revista avalia, porém, que "o brasileiro comum ou ignora esses problemas ou não confia que os políticos os resolverão". Por isso, observa, as pesquisas sugerem que, se o voto não fosse obrigatório, metade dos eleitores não iria às urnas.

Segundo a Economist, o principal adversário de Lula na disputa presidencial, o tucano Geraldo Alckmin, "até agora fracassou em quebrar essa indiferença". Na avaliação da revista, a campanha do candidato do PSDB "parece desmoralizada", pois ele está sendo ignorado até por candidatos a governador de seu partido. "Até agora, Alckmin não ofereceu a um eleitorado complacente razões suficientes para mudar de presidente."

Ao explicar que Alckmin reclama dos juros e da sobrevalorização do real, a revista opina: "Domar gastos públicos, ele corretamente afirma, é a maneira para baixar ambos." Mas pondera: "Mesmo assim, não oferece detalhes sobre os mecanismos indispensáveis para conquistar isso: mais reformas nas pensões financiadas pelo Estado."

De acordo com a Economist, mais do que prever quem ganhará a eleição, a grande questão é saber se um segundo mandato de Lula seria mais produtivo do que o primeiro. "Depende muito se ele vai liderar ou não reformas para estimular crescimento e investimentos ou vai se juntar à massa de seu partido na resistência a elas." A avaliação é de que o programa de governo de Lula, divulgado na terça-feira, não é "encorajador", embora o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tenha dito que reformas serão implementadas após as eleições.

A Economist ressalta ainda que o PT poderá perder cadeiras no Congresso por causa "de seu envolvimento com corrupção" e Lula "provavelmente montará maioria atraindo o PMDB e outros partidos famintos por patronagem governamental". Para a revista, o momento exige "uma forte liderança para conter o apetite por dinheiro público". E conclui: "A menos que a economia mundial não seja mais amigável, um segundo mandato poderá parecer muito com o primeiro."