Título: Bush avisa que iranianos pagarão por rebeldia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2006, Internacional, p. A18

O presidente americano, George W. Bush, advertiu ontem que o Irã pagará o preço por não parar com suas atividades nucleares. Ele disse que Teerã terá de assumir as "conseqüências de sua rebeldia" ao ignorar o prazo imposto pela ONU para deter o enriquecimento de urânio. "O regime iraniano está tentando desenvolver armas nucleares desafiando abertamente suas obrigações internacionais", declarou Bush durante uma convenção anual da Legião Americana de Veteranos em Salt Lake City, em Utah. Para Bush, "o mundo enfrenta uma grave ameaça do regime radical do Irã".

Agora a questão é se os EUA poderão manter unida a coalizão das potências que concordou em oferecer incentivos ao Irã para que encerrasse o enriquecimento de urânio. Para finalizar o pacote foram necessários meses de negociação entre EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia, China, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, e mais a Alemanha. Após o fim do prazo para o Irã interromper o enriquecimento e se beneficiar com os incentivos, ninguém arrisca prever se haverá concordância na implementação das ameaças. "Isso não será fácil, em parte porque o pacote de sanções deverá ser votado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas inteiro", argumenta Helene Cooper em artigo publicado no jornal The New York Times. "Apesar de apenas os membros permanentes terem poder de veto, o temor crescente, particularmente entre os diplomatas europeus, é de que países com menos poder dentro do Conselho estão tão enraivecidos com o modo como os EUA trataram a crise do Líbano, que poderão dar cobertura política para China e Rússia se oporem a sanções mais duras contra o Irã", completou Cooper.

Rússia e China têm fortes interesses econômicos no Irã e não vêem com bons olhos um instrumento contundente de sanções. Outra questão no cálculo político e econômico feito pelos representantes no Conselho de Segurança são os efeitos das sanções contra o Irã. Teme-se que o Ocidente acabe sendo o prejudicado com o aumento dos preços de petróleo no caso de um bloqueio comercial, por exemplo.

A pressão sobre o Irã para que pare de enriquecer urânio fez o professor de estudos estratégicos do Centro para Pesquisa de Políticas de Nova Délhi, Brahma Chellaney, denunciar a falta de parâmetros da ONU. Em artigo publicado na edição de ontem do jornal International Herald Tribune, Chellaney acusa o organismo de ter dois pesos e duas medidas. "Nada ilustra melhor como a política internacional afeta os esforços para inibir a proliferação nuclear do que as respostas da ONU para o Irã e o Paquistão", diz Chellaney. O Paquistão foi tratado de forma leniente, segundo Chellaney, depois da descoberta de uma rede de contrabando de segredos nucleares.