Título: Lula diz à cúpula do PT que quer chacoalhada no partido
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2006, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem meias palavras: acha que o PT precisa levar uma 'chacoalhada'. O termo foi usado por ele na reunião com a cúpula petista, há dois dias, no Palácio do Planalto. Ao defender mudança radical no PT, Lula disse que o partido 'encerrou um ciclo' depois de chegar ao governo e agora necessita ser reformado. Em seu diagnóstico, a vida do PT não pode se resumir à luta interna entre as facções. Com retórica que agradou à ala esquerda, o presidente chegou mesmo a constatar a falência de sua própria corrente, a Articulação.

'A Articulação acabou, não existe mais', disse Lula. Foi uma referência à crise que se abateu sobre o Campo Majoritário - guarda-chuva que abrigava as tendências moderadas, como a Articulação - depois dos sucessivos escândalos envolvendo dirigentes do grupo.

Até a crise do mensalão, o Campo Majoritário detinha a hegemonia do partido, ocupando 66% das cadeiras do diretório nacional . Além de Lula, integram a Articulação todos os dirigentes petistas que caíram e os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.

No encontro de quinta-feira com velhos companheiros, o presidente afirmou que o PT deve se reaproximar dos movimentos sociais e criar canais para que todos possam opinar. Disse, ainda, que a direção do PT precisa representar o partido nacionalmente, mas não falou em 'despaulitização'.

'Não nos parece um conceito adequado', observou o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. 'É claro que o PT terá de abrigar as novas forças políticas que surgiram depois da eleição, mas o problema do partido não é regional: é de métodos de direção.'

MÉTODOS

Lula argumentou que a reforma do PT não deve começar por nomes, mas, sim, pelo debate sobre os métodos usados pela cúpula do partido até que tudo desabasse, com uma crise atrás da outra. O presidente fez uma analogia com o governo ao garantir que sua maior preocupação, atualmente, consiste em encontrar projetos viáveis para fazer o País crescer a 5% ao ano, e não em sair correndo atrás de nomes para o ministério.

Apesar de destacar a importância do governo de coalizão com o PMDB no segundo mandato, Lula afagou os companheiros e em nenhum momento falou na tesourada dos cargos ocupados por petistas - o que, na prática, poderá ocorrer.

'O presidente conseguiu desarmar a direção do PT, principalmente a esquerda', contou o deputado federal eleito Jilmar Tatto, terceiro-vice-presidente do PT, que integra uma facção de 'centro' no mosaico ideológico petista. 'Lula reconheceu a lealdade dos movimentos sociais, a força do PT demonstrada nas eleições com voto dos filiados (quando o deputado Ricardo Berzoini foi escolhido presidente, em outubro de 2005) e disse que quer um partido mais autônomo', completou o deputado estadual Renato Simões, da ala esquerda.

Ao prometer um novo relacionamento com o PT, Lula fez um mea-culpa: admitiu que faltou diálogo por parte do governo, além de uma 'posição mais crítica' do partido em relação ao Planalto nesse primeiro mandato. Na sua avaliação, o PT deve refletir sobre sua atuação para oxigenar suas práticas e seguir em frente. O acerto de contas interno está previsto para o 3º Congresso do PT, que deve ocorrer até junho de 2007. 'Mas o fato é que nós não podemos mais errar', pregou Lula.