Título: PIB cresce só 0,5% no 2º trimestre e derruba previsões para o ano
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2006, Economia, p. B1
O ritmo de crescimento da economia caiu drasticamente no segundo trimestre do ano, com a elevação marginal de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas do País) em relação ao primeiro trimestre. É menos da metade do crescimento de 1,3% de janeiro a março.
O acumulado em quatro trimestres não chega a 2%. "Se o ano acabasse agora, o PIB teria crescido 1,7%", disse Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado intensificou as revisões para o desempenho econômico de 2006. As previsões mais pessimistas apontam para 2%, enquanto as mais otimistas passam pouco de 3%. Rebeca ressaltou que o resultado do segundo trimestre "foi basicamente alavancado pela demanda doméstica".
Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o saldo também foi fraco: aumento de 1,2%, menos da metade do que previa o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) há dois meses.
Ainda sob o aquecimento da oferta de crédito pessoal, o consumo das famílias aumentou 1,2%, na comparação com o primeiro trimestre. Foi o que garantiu a taxa levemente positiva do desempenho econômico de abril a junho. Em relação ao segundo trimestre de 2005, o consumo familiar cresceu 4%.
Foi a 11ª elevação consecutiva neste tipo de comparação. O saldo das operações de crédito para pessoas físicas, que já havia aumentado 35,2% no primeiro trimestre, voltou a crescer fortemente no segundo, em termos nominais: 31,8%.
Em contrapartida, os dados divulgados ontem confirmaram a queda da produção industrial (0,3% em relação ao primeiro trimestre) e revelaram uma sucessão de taxas negativas relevantes nesse tipo de comparação: -2,2% no investimento (Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF), -5,1% na exportação de bens e serviços, -0,1% nas importações. Os resultados positivos foram decimais: 0,8% na agropecuária, 0,6% nos serviços, 0,8% no consumo do governo.
Para esta comparação, os técnicos fazem a chamada dessazonalização, ou seja, eliminam estatisticamente características específicas de cada período que possam mascarar o saldo final. A curva de tendência, que traz a taxa anualizada, mostra de forma clara a desaceleração econômica nacional.
"Estamos vivendo uma tendência de queda. Em alguma hora, a curva vai virar. A gente não sabe é quando", comentou Rebeca, analisando o gráfico que ilustra a taxa acumulada de quatro trimestres ante os quatro anteriores, uma sucessão de altos e baixos desde 1993.
IMPORTADOS
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em relatório divulgado ontem, alerta que "o stop and go industrial mostra-se extremamente curto na presente etapa da economia brasileira" e ressalta que os dados do PIB confirmam a estagnação industrial.
O documento chama a atenção para o dado, à primeira vista contraditório, de o consumo interno não dar sinais de arrefecimento, apesar da queda na produção nacional.
"Esse (o crescimento do consumo das famílias) é um sintoma de um fato que crescentemente vai se impondo na economia brasileira sem que as autoridades tenham até agora tomado as providências cabíveis: o dinamismo econômico que poderia ser ensejado pelas decisões do consumidor brasileiro está sendo absorvido pelos produtores externos", diz o documento, referindo-se à demanda por produtos importados.
Os efeitos da longa valorização cambial, que têm contribuição determinante para este cenário, não foram a única explicação para o desempenho no período.
Segundo Rebeca Palis, outros fatores pontuais tiveram peso significativo do resultado, como a greve de mais de dois meses dos auditores da Receita Federal, que prejudicou as operações de comércio exterior, e a redução da quantidade de dias úteis no período, causada pela realização dos jogos da Copa do Mundo e pela sucessão de feriados.