Título: Mercado interno banca 68% do crescimento
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2006, Economia, p. B5

As indústrias voltadas para o mercado interno estão puxando o crescimento da produção e contribuindo para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB). Conforme estudo de pesquisadores do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esses setores foram responsáveis por 68% do crescimento da produção física no primeiro semestre, de 2,6% - a menor, contudo, dos últimos três anos.

O trabalho mostra uma mudança de padrão que já se havia esboçado em 2005. Em 2004, ano de forte expansão industrial (8,3%) e câmbio mais favorável, os setores voltados para o mercado externo contribuíram com quase 60% do aumento da produção física do ano e 40% vieram das atividades mais focadas no mercado interno. Neste ano, até junho, ocorreu o contrário: setores exportadores contribuíram com 32%.

"Este ano, o câmbio está prejudicando mais os setores exportadores", diz Paulo Gonzaga, um dos autores do trabalho, com o economista Silvio Salles. Gonzaga explica que o crescimento das exportações em valor reflete, basicamente, aumentos de preços e não "aumento da quantidade exportada". "Nesse contexto, o acréscimo das exportações pouco afeta a produção industrial", registra o estudo.

Gonzaga também explica que a produção industrial vem sendo puxada pelo setor extrativo mineral e outros intensivos em importações, que se beneficiam do câmbio valorizado na compra de insumos. Ele comenta, ainda, que o Brasil começa a ficar com um padrão parecido com o mexicano, país que é forte em petróleo e nas chamadas indústrias "maquiadoras", de mera montagem.

O trabalho mostra crescimento, comparado com o primeiro semestre de 2005, em setores como de fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática (58,39%), farmacêutica (6,52%), bebidas (5,61%), máquinas e aparelhos elétricos (13,79%). Houve quedas na produção de vestuário e acessórios (7,9%), calçados e artigos de couro (3,89%) e madeira (8,76%). Os dados indicam que o vigor dos setores internos permanecerá até o fim do ano.

AGROPECUÁRIA

No primeiro semestre de 2006, o PIB teve crescimento de 2,2% ante o mesmo período de 2005, dividios assim: indústria (2,6%), serviços (2,3%) e agropecuária (0,3%). No segundo trimestre, comparado com o trimestre anterior, a agropecuária avançou 0,8%, os serviços, 0,6%, e a indústria caiu 0,3%. Os dados da produção física de junho já haviam sido de queda.

Para julho, a expectativa é de recuperação de crescimento industrial, mas há dúvidas se o vigor será suficiente para reverter a perda de dinamismo do fim do primeiro trimestre. O Ipea estima que a produção em julho cresceu 0,7% em relação a junho e 3,4% ante o mesmo mês de 2005. Essa projeção leva em conta indicadores já disponíveis de julho de produção de veículos, expedição de papelão ondulado e carga de energia. O dado oficial ainda não foi divulgado.

Apesar de os resultados previstos pelo Ipea superarem os de junho - quando a produção caiu 1,7% ante maio e 0,6% ante junho de 2005 -, Estêvão Kopschitz, do Ipea, avalia que o crescimento projetado é pequeno, "aquém do desejável para um mês que já é do segundo semestre". Na divulgação de junho, o IBGE informou que, "em síntese, os números de junho mostram desaceleração no ritmo da produção industrial, após o crescimento em maio".