Título: Para CNBB, programa Bolsa-Família vicia
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2006, Nacional, p. A8

Integrantes da CNBB criticaram ontem o governo Lula por deixar de ouvir as demandas populares, concentrar seus programas sociais no Bolsa-Família e focar sua preocupação com apoios no Congresso. 'É um programa que vicia', disse o presidente da Comissão para Serviço de Caridade, Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, d. Aldo Pagotto, na crítica mais dura que fez ao Bolsa-Família. Para ele, como na prática não são exigidas contrapartidas, as famílias 'se contentam com o mínimo'.

Após reunião da Assembléia Social da CNBB, o religioso considerou essencial que também sejam oferecidos cursos e atividades que favoreçam o ingresso no mercado de trabalho. 'É preciso que se dê para adolescentes oportunidades de estudo não só acadêmico, mas também profissionalizante', disse.

Para d. Pagotto, falta mobilização popular. 'Não estamos vendo o povo se juntar', disse. O mesmo processo, afirma, ocorre também com assentamentos de sem terra. 'São verdadeiras favelizações rurais', definiu. 'Sem condições de crédito, sem auxílio técnico, o povo vai desistindo de plantar.'

As críticas se estenderam à forma como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem buscado alianças no Congresso. Para d. Pagotto, ele reproduz um sistema viciado. Dizendo estar decepcionado, o religioso afirmou que Lula deveria dedicar esta etapa à discussão de um projeto para o povo, não com representantes de partidos, mas de movimentos sociais.

O presidente da CNBB, d. Geraldo Majella Agnelo, foi menos contundente, mas não deixou de classificar como 'duvidosas' as alianças feitas com partidos em nome de cargos e ministérios. Para ele, a adesão deveria ser espontânea.

D. Demétrio Valentini, presidente da Caritas, admitiu que o presidente 'está no seu direito' ao negociar. 'Mas não basta uma governabilidade no Congresso. É preciso que o presidente se mostre com mais segurança agora do que no primeiro mandato. Com condições melhores de escutar os movimentos populares, que têm demandas bem concretas.'

NOVO PLEBISCITO

Igreja e movimentos populares querem realizar, em setembro, um 'plebiscito educacional' sobre a privatização da Vale do Rio Doce. A idéia foi lançada anteontem, numa reunião da Assembléia Social.

Consulta semelhante já foi promovida pela Igreja, sobre a Alca, com 10 milhões de votos.