Título: Jovem e desempregado
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2006, Notas e Informações, p. A3

O desemprego tornou-se o pior problema para um grande número de famílias brasileiras, mas tem sido particularmente cruel para os jovens. Entre 1995 e 2005, a taxa de desemprego no País passou de 6,1% para 9,3% da População Economicamente Ativa (PEA), o que corresponde a um aumento de 52%. Para os jovens entre 10 e 17 anos, porém, a evolução foi de 87%, pois a taxa saltou de 11,5% para 21,5%; para a população na faixa de 18 a 23 anos, o desemprego cresceu de 10,7%, em 1995, para 18% no ano passado, com variação de 68%.

A dificuldade de obtenção de emprego é um drama para os jovens, frustrando-os e criando neles um trauma de difícil superação. Mas, além de criar problemas pessoais que podem ter conseqüências no futuro, a escassez de trabalho para os jovens é também um problema econômico e social grave.

Como mostrou a Síntese de Indicadores Sociais 2006, elaborada pelo IBGE com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) relativa a 2005, em meados da década passada, a desocupação atingia principalmente a parcela da PEA que tinha de cinco a oito anos de estudos, ou seja, os trabalhadores que freqüentaram ou completaram a segunda parte do ensino fundamental. Em 2005, a parcela que mais encontrou dificuldade para obter emprego freqüentou ou concluiu o ensino médio, isto é, tem de 9 a 11 anos de estudos.

A escolaridade da força de trabalho brasileira aumentou de 1995 para cá, mas esse avanço não foi inteiramente assimilado pelo mercado de trabalho. Como observa o IBGE, o que a mudança no perfil do desemprego - que passou a afetar mais fortemente os trabalhadores mais preparados - mostra é que o mercado de trabalho tornou-se mais exigente mas, ao mesmo tempo, teve mais dificuldades para empregar os que têm mais tempo de estudo. Parece uma contradição.

A capacidade do mercado de absorver mão-de-obra não cresce na mesma velocidade com que se expande a oferta, razão pela qual a taxa de desemprego aumenta. Como, em muitos casos, disputam o emprego com desempregados ou trabalhadores mal remunerados, mas já treinados para a função, os jovens são preteridos, daí a taxa de desemprego entre eles crescer mais do que a média nacional, apesar de seu nível de escolaridade superior ao da PEA.

Políticas públicas eficientes poderiam pelo menos amenizar o problema. Mas as iniciativas voltadas para dinamizar o mercado de trabalho para os jovens que o governo Lula anunciou tiveram resultados praticamente nulos. O programa Primeiro Emprego, por exemplo, anunciado com estardalhaço, foi silenciosamente abandonado, pois não alcançou nem 1% da meta de gerar 260 mil empregos por ano para os jovens. Mais recentemente, o governo passou a defender idéias mais modestas de qualificação profissional dos jovens.

Outro aspecto importante da realidade brasileira mostrado pelo estudo do IBGE é que, apesar da melhora de diversos indicadores sociais, persistem muitos problemas e surgem novos. O País assegurou a universalização do acesso ao ensino fundamental, mas isso não basta. É difícil manter o aluno na escola e mais difícil ainda garantir que ele freqüente a série compatível com sua idade.

Dos alunos matriculados na 8ª série em 2005, 36% estavam atrasados. No ensino médio, o quadro é pior: 55% dos estudantes de 15 a 17 anos estavam matriculados em séries que, por sua idade, já deveriam ter completado. No Nordeste, a proporção dos atrasados chegou a 70% do total de alunos.

Com relação ao analfabetismo, embora o índice tenha caído, o problema é grave. No Brasil, 14,9 milhões de pessoas com mais de 15 anos não sabem ler nem escrever. Isso representa 11% da população, bem mais do que o índice observado na Argentina e no Chile (cerca de 3%). Se se considerar o analfabetismo funcional (pessoas com menos de 4 anos completos de estudo), o índice sobe para 23,5%, ou praticamente um quarto dos brasileiros.

Ao mesmo tempo que precisa abrir oportunidades para jovens mais treinados, o Brasil precisa preparar melhor sua força de trabalho, para enfrentar a competição externa e crescer mais depressa. São tarefas que exigem competência, sobretudo do governo - que tem demonstrado grande carência desse atributo.