Título: Grupo seqüestra 14 estrangeiros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2006, Internacional, p. A20

O Iraque enfrentou ontem mais um seqüestro em massa - o segundo desde o início da semana. Depois de dezenas de iraquianos terem sido capturados em Bagdá, na terça-feira, as vítimas de quinta-feira à noite foram civis estrangeiros, funcionários de uma empresa de segurança. No total, 14 pessoas foram seqüestradas no vilarejo de Safwan, no sul do país. Nove delas foram rapidamente libertadas, restando como reféns quatro americanos e um austríaco.

Segundo informação do Ministério do Interior, que não foi confirmada por fontes independentes, a polícia teria libertado dois americanos durante a madrugada. Um outro refém, possivelmente o austríaco, teria sido morto.

Os funcionários do grupo privado de segurança Crescent ocupavam seis veículos blindados. Eles escoltavam um comboio de 43 caminhões transportando produtos agrícolas quando foram parados por um grupo armado em um falso posto de informação próximo a Nassíria, cidade vizinha à Basra e a 300 km ao sul de Bagdá.

O comboio vinha do Kuwait, onde fica a sede da empresa, e seguia para a base aérea americana de Tallil, a 20 quilômetros de Nassíria. Horas depois do seqüestro, nove motoristas da empresa foram libertados nas redondezas. Segundo a empresa, todos eles eram asiáticos, da Índia, Filipinas e do Paquistão. Durante o dia, forças britânicas e americanas bloquearam estradas e usaram helicópteros para tentar localizar os reféns.

Como no caso de Bagdá, ocorrido no Ministério de Educação Superior, os seqüestradores vestiam uniformes da polícia iraquiana - aprofundando as críticas sobre a ineficácia das forças de segurança do país, lideradas pelo governo de maioria xiita.

Em setembro, militares britânicos devolveram para os iraquianos o controle de Nassíria, cuja maioria da população é xiita. O seqüestro é mais um exemplo da rápida desintegração do sul do Iraque, uma área considerada ¿sob controle¿ pelas forças de coalizão.

Até a noite de ontem, não havia um consenso sobre o destino dos reféns. Um dos americanos capturados é Paul Reuben, um ex-policial de Minnesota. Em entrevista a um jornal dos EUA, a cunhada dele, Jennifer Reuben, disse que ele estava se preparando para deixar o Iraque por temer por sua segurança. ¿Paul me dizia: `Os iraquianos nos odeiam, nos olham e dizem para irmos embora¿¿, relatou Jennifer.

A notícia de que o governo teria ordenado, na quarta-feira, a prisão do principal líder sunita no país, Harith al-Dhari, causou revolta entre a minoria sunita e ameaças de dissolver o governo. ¿A ação vai desestabilizar o plano de reconciliação nacional¿, disse um dos vice-presidentes iraquianos, o sunita Tariq al-Hashimi. Dhari está em Amã, na Jordânia. O porta-voz do primeiro-ministro Nuri al-Maliki informou que a ordem não seria de prisão, mas de ¿investigação¿. A declaração não acalmou os ânimos sunitas. A crescente crise política entre xiitas e sunitas vem ameaçando a unidade do governo de Maliki e pode causar ainda mais violência sectária entre os dois grupos.