Título: Bush vê lição para Iraque no Vietnã
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2006, Internacional, p. A21

O presidente americano, George W. Bush, em sua primeira visita a um país onde os EUA perderam uma guerra contra o comunismo, disse ontem que a lição da Guerra do Vietnã para o frustrante conflito no Iraque é que a liberdade leva tempo para vencer o ódio.

Ele disse que a Guerra do Vietnã, que terminou 31 anos atrás, quando as forças comunistas tomaram Saigon e derrotaram o regime apoiado por Washington, mostrou que as profundas divisões podem ser cicatrizadas com o tempo. ¿Minha primeira reação é, a história tem um longo caminho para chegar a isso, que as sociedades mudam e os relacionamentos podem ser alterados para o bem¿, disse Bush, após almoçar com o primeiro-ministro australiano, John Howard, na capital do Vietnã.

O presidente disse que há muito o que aprender da Guerra do Vietnã - o mais longo conflito da história dos EUA - enquanto seu governo estuda novas estratégias para a guerra no Iraque, que entrará em seu quarto ano. Mas seus críticos vêem paralelos com o Vietnã - uma determinada insurgência e um elevado número de soldados mortos que reduziu o apoio da população - que indicam o perigo de ampliar o envolvimento dos EUA no Iraque. O longo envolvimento dos EUA no Vietnã (de 1961 a 1975) atraiu duras críticas e cerca de 60 mil soldados americanos morreram antes do fim da guerra.

Bush iniciou ontem uma visita de quase quatro dias ao Vietnã - um ex-inimigo que mantém um regime comunista, mas adotou o capitalismo -, onde participará no fim de semana da cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, pelas siglas em inglês).

Milhares de vietnamitas, alguns sorrindo, outros passivos, tomaram as calçadas enquanto a comitiva de Bush passou a caminho do almoço com o primeiro-ministro australiano. Os vietnamitas não escondem seu orgulho em receber o presidente americano, um sinal a mais de que a guerra é uma coisa do passado. Mas a visita de Bill Clinton em 2000 - cinco anos depois do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países - ainda está na lembrança de todos.

Muitos usavam camisetas com os dizeres ¿I love Clinton¿, algo que não aconteceu ontem. ¿Creio que os vietnamitas preferiam Bill Clinton. Bush é o presidente que lembra a guerra porque ele e seu pai têm sido um pouco agressivos¿, disse Nguyen Tran Thang, de 65 anos, veterano da Guerra do Vietnã.

Outro veterano, Huyhn Tuyet, de 71 anos, disse que os americanos deveriam aprender que eles não podem vencer contra um povo motivado. ¿Apesar de os americanos serem mais poderosos com todas suas armas, o fator principal na guerra é o povo¿, disse Tuyet. ¿Os vietnamitas era muito determinados. Nós não desistimos. Por isso vencemos¿, acrescentou. Ele disse que os EUA enfrentarão o mesmo destino no Iraque. ¿O Iraque pertence aos iraquianos. Os americanos fracassarão lá, como fracassaram aqui. Isto é obvio.¿

Em contraste com a fria recepção em Hanói, Bush deve enfrentar grandes protestos na Indonésia, que ele visitará na segunda-feira. Vários manifestações anti-Bush foram realizadas ontem em várias partes da Indonésia, o país de maioria muçulmana mais populoso do mundo (87,2% de seus 235 milhões de habitantes), cuja população é totalmente contra a guerra no Iraque e no Afeganistão.

¿Você não é bem-vindo aqui¿, gritavam centenas de manifestantes, enquanto queimavam bandeiras dos EUA nas ruas da cidade de Bagor, onde Bush se reunirá com o presidente Susilo Bambang Yudhoyono. Os dois discutirão temas que vão do combate ao terrorismo, o processo de paz no Oriente Médio à educação e redução da pobreza.