Título: Busca da auto-suficiência pode inibir importações
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2006, Economia, p. B8

Desde o início deste ano, a China vem tomando medidas para desestimular o investimento e acelerar o consumo, exatamente na direção oposta do Brasil. A intenção é evitar a queda generalizada no nível de preço, ou seja, escapar do risco de deflação por causa do excesso de oferta de produtos.

Entre essas medidas, por exemplo, em abril deste ano a taxa básica de juros chinesa começou a subir junto com as taxas de depósito bancário para estimular as empresas a depositarem os recursos nas instituições financeiras e não reinvestirem o dinheiro na produção. Também o feriado do 1º de maio foi estendido por seis dias para estimular o consumo.

Segundo o economista da MB Associados, Sergio Vale, a decisão de estimular o consumo e desestimular o investimento significa que o gigante asiático continuará crescendo, porém num ritmo mais lento e, portanto, comprando commodities numa velocidade menor.

Se o Produto Interno Bruto (PIB) da China fechar este ano com alta de 10,6%, conforme previsões da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no ano que vem e no próximo a economia daquele país poderá crescer 8% e 7%, respectivamente, diz o economista.

Com isso, Vale diz que deve ocorrer uma significativa desaceleração nas compras de commodities não agrícolas, como minério de ferro e aço, cuja disparada nos preços tem garantido saldos comerciais importantes para o Brasil. O economista observa que a China quer ser auto-suficiente nesses produtos e, portanto, as compras externas tenderão a diminuir.

¿A médio prazo o efeito positivo das exportações das commodities não agrícolas na balança não será suficiente para contrabalançar o impacto negativo do aumento das importações dos dos industrializados chineses¿, prevê Vale.

Para este ano, a consultoria projeta que a balança comercial total brasileira feche com um saldo positivo de US$ 45,5 bilhões. A estimativa para 2007 é de um de superávit menor, de US$ 37 bilhões.